Por Dieter Wartchow, engenheiro e professor da UFRGS
A toxoplasmose é uma zoonose causada pelo protozoário Toxoplasma gondii. Este se propaga através da ingestão de alimentos mal lavados ou pela água contaminada por fezes de gato portador do protozoário. Previne-se a transmissão desta doença de veiculação hídrica com alimentos bem cozidos, fervura da água, microfiltração, com higiene e evitando o contato com gatos e sua areia. Os gatos se contaminam se alimentando de ratos, pássaros, insetos, carne crua contaminada. Por isso, devem ser alimentados com ração animal processada.
Os sistemas de tratamento de água do tipo convencional, adotados pelo DMAE e a Corsan devem, segundo Padrão de Potabilidade do Ministério da Saúde, Portaria nº 2914/2011, prever filtração e desinfecção da água. O parâmetro turbidez que avalia riscos a contaminação da água, foi definido em seu valor máximo de 0,5 UT (unidades de turbidez), o que em princípio deveria reter protozoários do tipo Toxoplasma gondii por filtração. Devido a sua estrutura celular ser constituído por oocistos, a desinfecção é menos provável, nas concentrações e tempos de contato usuais usados nos processos de tratamento de água. Por isso, é recomendado, em caso de suspeição de veiculação da toxoplasmose através da água, proceder-se uma fervura e sua posterior filtração, por exemplo, em filtros de barro.
Quando se associa a causa da transmissão da toxoplasmose pela água é preciso especificar qual água e como. É difícil de imaginar que a origem da contaminação tenha sua causa na Estação de Tratamento de Água da Corsan em Santa Maria. Segundo a Companhia de Saneamento, nenhum dado da qualidade da água coletado e analisado na saída da Estação de Tratamento de Água para sua distribuição à população acusou a presença de alguma anormalidade. Daí a importância de se possuir um Plano de Segurança da Água e um plano para permitir a rastreabilidade deste surto de toxoplasmose na cidade de Santa Maria-RS, ferramentas as quais somente se dá importância quando algo de grave acontece.
Não podem ser descartadas a contaminação de reservatórios domiciliares ou reservatórios do sistema de abastecimento de água, pois há possibilidade de acesso para gatos e a veiculação de suas fezes no ambiente. Não podem ser descartados os hábitos de higiene e de salubridade ambiental nas áreas de contaminação, pois resíduos atraem roedores e estes, gatos que se alimentam deles. Não pode ser descartada a água usada para irrigar ou lavar hortaliças. Ainda, a água não tratada fornecida por poços e fontes pode também estar contaminada pelo protozoário transmitido pelas fezes de gatos que circulam no entorno.
Ao sentir sintomas como febre alta, fraqueza, cansaço, deve ser procurada uma unidade de saúde ou um médico para a realização de exames e um diagnóstico. Mulheres grávidas devem imediatamente se submeter a exames, pois a doença possui um elevado índice de transmissão desta para o feto, cujas consequências poderão ser graves.
Este surto de toxoplasmose pode nos trazer algumas lições capitais como a importância da integração entre as políticas públicas de saúde, saneamento, de meio ambiente e de educação, dentre outras. A prevenção é o melhor remédio. A capacitação e a pesquisa precisam andar juntos e os governos e governantes precisam dar mais importância às necessidades básicas da população. Economia também se gerencia com prevenção, pois um real investido em saneamento, promove a economia de quatro reais com o tratamento curativo de doenças de veiculação hídrica, a exemplo, da toxoplasmose.