Por Danilo Gandin, professor, especialista em planejamento, escritor
Está no ar a notícia de que teremos mudanças na escola básica, para dar as mesmas oportunidades aos pobres e aos ricos. Dizem as propagandas oficiais que "tendo uma base igual na escola (Base Nacional Comum Curricular - BNCC), pobres e ricos vão ter as mesmas oportunidades na vida".
Esse é um erro teórico imenso, que temos medo de denunciar, porque dirão facilmente que somos maus brasileiros, ignorantes e – pasmem! – comunistas.
Mas é fácil compreender que:
1. Não é a escola que vai mudar significamente a sociedade, a menos que ela fosse organizada expressamente para essa mudança;
2. Com as estruturas capitalistas atuais, os pobres serão, sempre, discriminados em tudo. É claro que os pobres que alcançarem a conclusão do ensino médio terão algumas vantagens sobre os outros pobres, nunca se igualando aos ricos;
3. As escolas de pobres têm menos condições do que as de ricos. Essas são mais equipadas, têm professores e administradores levemente mais preparados, são mais cuidadas pelo governo, recebem mais ajuda de todos etc. As de pobres sofrem, inclusive, mais ameaças de drogados, bandidos ou outros malfeitores.
4. No capitalismo atual, pelo menos num país com desigualdade grande entre pobres e ricos, estes têm privilégios tão grandes que, ao final, o fato de cursar todo o ensino básico não tem significado maior. O rico tem experiências de viagens, de cursos extras, de um entorno cheio de possibilidades e de apoio, que, ao fim, resultam automaticamente em vantagens definitivas;
5. A situação é muito pior, ainda, porque a escola ensina mal e, por isso, não tem tanta importância para quem já tem muito pouco, quer dizer, quase nada.
A escola ajudará a mudar a sociedade apenas se a mudança educacional for originada de um desejo de transformar a sociedade para incluir todos, pobres e ricos, na participação dos bens que produzimos e para isso for orientada. Fora disso, a transformação será, no máximo, propaganda enganosa.