A reforma da Previdência, na qual o governo investiu milhões de reais em propaganda nos últimos meses, apontada como a solução de todos os males, não importa mais. Até dezembro de 2018, a proposta sequer poderá ser submetida à votação, porque o decreto que instaura intervenção militar no Rio de Janeiro o impede. Por sua vez, a intervenção é anunciada como um "laboratório" de algo que poderá se "espraiar" pelo Brasil e que deverá ser a garantia, segundo declaração recente, de que seus executores não enfrentarão "uma nova Comissão da Verdade". A solução, agora, é resolver séculos de miséria, concentração de renda e exclusão social com o extermínio coletivo.
Nem reformas nem intervenção! Temos uma Constituição, vamos respeitá-la
VALDETE SOUTO SEVERO
Juíza do Trabalho da 4ª Região
A realidade é que o governo não tem votos suficientes para aprovar a PEC 287, e que estamos em ano eleitoral, mas ainda não há candidato que se proponha a seguir transitando na “ponte para o futuro” que nos leva para o abismo. O recurso ao autoritarismo militar para um suposto combate à violência é a reedição da “página infeliz da nossa história”. E obscurece a potencialização da miséria e da violência, que o desmanche de direitos sociais vem provocando, inclusive em razão da reforma trabalhista. Seus efeitos podem ser devastadores para a nossa frágil democracia.
Nem reformas nem intervenção! Temos uma Constituição, vamos respeitá-la. Se esperarmos que a história se repita, não serão apenas os direitos trabalhistas e previdenciários que perecerão. Perderemos, inclusive, nossa liberdade. E teremos que admitir, constrangidos, que já sabíamos e nada fizemos, porque nosso passado recente, corajosamente denunciado pela Comissão da Verdade, sequer nos permitirá invocar inocência.