O trágico assassinato da vereadora Marielle Franco fez com que, mais uma vez, a infeliz expressão "defensor de bandido" fosse disseminada no debate público. Afirmo que é uma expressão infeliz especialmente por dois motivos: primeiro, porque é comumente utilizada em contextos de profunda tristeza (como esse), mas com uma carga de sentido raivoso e desrespeitoso para com a dor alheia; segundo, porque o "defensor de bandido" é não mais do que uma fantasia.
As pessoas qualificadas por essa expressão possuem tanto desejo de que se acabe com a violência social quanto aqueles que utilizam essa expressão para qualificar terceiros, assim como são pessoas que não defendem que criminosos sejam eximidos de alguma forma de responsabilização por seus atos. A diferença entre ambos os grupos apenas se inicia no momento da decisão pelas estratégias que consideram mais adequadas ao alcance desse objetivo (que é comum a todas essas pessoas). Ou seja, não existe a polarização "defensores de bandidos" e "defensores da segurança"; o que existe é o embate entre defensores de políticas criminais diferentes, mas o desejo por um mesmo objetivo final.
o que existe é o embate entre defensores de políticas criminais diferentes, mas o desejo por um mesmo objetivo final
RAUL MARQUES LINHARES
Advogado criminalista
Quando se fala, portanto, no nível de permissividade ou restrição ao uso de armas de fogo, à forma de tratamento do uso e venda de drogas, à criação ou não de algum novo crime, ao aumento ou diminuição de penas dos crimes já existentes, entre outros temas, não se está promovendo qualquer "defesa de bandidos". Se está, exclusivamente, defendendo uma determinada política criminal com um objetivo social predominante: promover o combate à violência tão crescente em nosso país.
Por isso, pode-se muito bem debater quais são as medidas mais adequadas para que se promova um combate efetivo à violência, com argumentos consistentes de todos os lados. Contudo, taxar uma pessoa de "defensor de bandido" por defender medidas contrárias às quais se acredita corretas é um equívoco e uma atitude covarde de fuga do debate (sempre salutar, quando respeitoso) com quem possui opinião diferente.