Some o alto índice de desemprego, os problemas na educação, na saúde e na segurança públicas, ou seja, os problemas que, na percepção da população, afetam seu dia a dia. Some, ainda, a cultura de permissividade com as pequenas corrupções, retroalimentada pela crise de representatividade e um "nem quero saber"; acrescente a rotina de a "operação do dia" exibir a avidez da corruptibilidade face à polidez da Justiça, o tempo, e o falho Direito Penal condescendente com os delinquentes. Resultado? Um país de violência civil crescente, de inconsciente coletivo confuso e que questiona valores sem os quais nem conseguiria constituir-se como nação. Urge construir pontes de entendimento.
Por desconhecimento da sua origem liberal, quando cidadãos afirmam "sou contra os direitos humanos", eles não renunciariam ao direito de serem tratados humanamente; não aceitariam retroceder às condições de vida e de trabalho a partir das quais tivemos a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789; e eles não desejariam reviver a barbárie da II Guerra Mundial, que tornou necessária a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948. Mas o que de construtivo se pode extrair daquela fala de tais cidadãos? Da Constituição Federal, por exemplo, o Art. 5º, inciso LVII, o princípio de não culpabilidade não deve se traduzir em chicanas que desviem a finalidade do processo penal na exacerbação de presunção da inocência que tem feito, cada vez mais, a sociedade assimilar direitos sob a percepção de uma certa vitimização do condenado.
Quando se fala em direitos, estes não implicam a exclusão de deveres
De outro lado, quando se fala em direitos, estes não implicam a exclusão de deveres, mas a aplicação da lei que inclui estes últimos e a partir da qual constitui-se um Estado de regime político, não uma horda. A democracia é valor irrevogável. Na obra A República, apenas num aspecto a crítica de Platão à democracia pode servir como alerta em ano eleitoral: nela, diz o autor, o extremo excesso da liberdade para si e negligência de todo o resto leva à anarquia, ao caos, então, o povo costuma pôr um “protetor” a sua frente e que, apanhando o povo a lhe obedecer, transforma-se num tirano. Pois bem, evitemos nós os "protetores".