O politicamente correto pode até ter nascido com boas intenções, porém se tornou a ponta de lança do pensamento único. Seus defensores transformaram-se em patrulheiros do pensamento alheio.
Eles começam querendo proibir que digamos as coisas pelos nomes que têm. Ora, pessoas e coisas não vão deixar de ser o que são se as chamarmos de modo diferente. Um exemplo: favelas são sinônimos de diversos problemas, como violência e falta de infraestrutura. Denominá-las "comunidades" não altera em nada a realidade.
Porém, muito mais grave é a imposição. À medida que aceitamos ser patrulhados, abdicamos de pensar – o dom mais precioso do ser humano. A lista de proibições só aumenta. Artistas tidos por vanguardistas fazem intervenções em praça pública com o objetivo de chocar e debochar de costumes sociais, culturais e religiosos. São livres para se manifestar, mas quem deles discorda é intimidado e tachado de reacionário.
Baseado na mentira, o politicamente correto vem ganhando tamanha dimensão, que as pessoas têm medo de contrariar a narrativa política dominante e de dizer o que pensam. No lugar de espaços da diversidade e do debate, as universidades transformam-se em palcos do discurso único. Todos devem pensar da mesma maneira, sob pena de linchamento moral. Assim brota a intolerância.
"A mentira com a intenção de passar a imagem de que você só tem opiniões politicamente corretas é fake ethics", escreveu o filósofo Luiz Felipe Pondé. As pessoas deixam de ser o que são para integrarem um personagem único. Como num script macabro, cada um diz apenas o que outro quer ouvir e ouve de volta as mesmas patranhas. Elimina-se, assim, uma das melhores formas de progresso intelectual: o debate – e, com ele, o livre pensar.
Para se enquadrarem nesse novo mainstream, repetem o que o politicamente correto determina. Com isso, ganham votos, popularidade, dinheiro e até amigos. Mas perdem a alma. Se quisermos recuperar o direito à liberdade de expressão, teremos de marchar contra a corrente. A turma dos patrulheiros tem o direito sagrado de dizer o que pensa; e todos os outros, de discordar deles.