Conta um participante do Plano Real que, no início de 1994, o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, chamou autores do Plano Verão, no governo Sarney, para questionar o seu fracasso. Verificara que o presidente José Sarney, logo após o lançamento do plano, que tinha em seu início um congelamento de preços, surfou em índices de popularidade impensados à época. Embriagado por essa popularidade, acabou por não aceitar as medidas posteriores e impopulares que deveriam ser implementadas pela equipe econômica para finalizar a estratégia de combate definitivo da inflação, e o plano fracassou.
Fernando Henrique percebeu bem que a economia impulsiona a popularidade dos governantes quando a população sente a melhoria de seu bem-estar, no caso, os ganhos em seu poder aquisitivo garantidos pelo fim da corrosão inflacionária; comprou então a estratégia do Plano Real, que tinha início, meio e fim, e se elegeu presidente da República.
Lembro que há algumas décadas um brilhante professor do Colégio Júlio de Castilhos explicava a um grupo de adolescentes que o ser humano necessita acreditar em algo superior, para de alguma forma lhe guiar e seguir, o que explicava naquele momento a existência das religiões, que possuem em comum a crença em algo ou alguém superior, que representa valores e garantias de vidas melhores, em muitos casos acompanhadas de seus messias.
Em 2002, Lula se elegeu presidente entendendo a importância da economia estabilizada e a manutenção da sensação de bem-estar social; capturou a ideia e complementou a estratégia agregando um forte apelo populista, no qual o Bolsa Família teve papel fundamental ao suprir necessidades básicas de parcela significativa da população carente; melhor, pela incapacidade do programa em reduzir a dependência dessa população, acabou criando uma relação clientelista definitiva com um contingente que atualmente representa em torno de 20% da população.
Com isso, mais seu discurso fácil e focado, Lula evoluiu do populismo para o messianismo. O messianismo, em psicologia, é explicado por uma crença profunda que alguém acredita ter em seu papel para benefício da humanidade inteira e acredita ou vende a capacidade de mudanças radicais graças à intervenção de sua liderança, com auras de divindade.
Isso ajuda a explicar o porquê de Lula, líder do grupo patrocinador do maior escândalo de corrupção da história e condenado à prisão, mantém seu patrimônio político aparentemente intocado. Seguidores não questionam suas divindades.