Na próxima quarta-feira não é só o ex-presidente Lula que será julgado em Porto Alegre. Junto com ele, a democracia do Brasil, golpeada desde a saída de Dilma, também é ré.
A Justiça no nosso país há tempos não se baliza mais pelo princípio da isonomia e julga a muitos pesos e muitas medidas. Com ares de partido político tem tomado lados e ideologias.
Para quem não compartilha do meu entusiasmo, não pense no Lula. Imagine nesta quinta-feira apenas um brasileiro sendo julgado.
Lula, como toda pessoa que esteve na vida pública deste país, tem o dever de prestar contas do seu patrimônio e nunca se negou. É importante ressaltar isso na nossa sociedade, em que as fake news correm soltas e ainda existe quem jure de pés juntos que o filho do ex-presidente é o verdadeiro dono da Friboi.
Por mais que não gostem de Lula, não há como negar os abusos desse processo que atende a interesses escusos de tirá-lo do páreo das eleições. A condução coercitiva desnecessária, os grampos colocados nos advogados do ex-presidente, as escutas telefônicas divulgadas ilegalmente, tudo usado como espetáculo e transmitido pela TV e pelos jornais.
A imagem de austeridade que gosta de passar o juiz Moro não condiz com seu trabalho. O processo é cheio de falhas, atitudes muito questionáveis, um veredicto descabido que exige um ressarcimento que ultrapassa muito a suposta vantagem recebida. Nenhuma prova de que o triplex seja de Lula. Isso quem diz são juristas de renome que até escreveram um livro contestando a sentença.
Apoiado em um amplo processo de demonização pública de Lula, Moro quer que o Brasil acredite que, condenando-se Lula a qualquer preço, a política estará livre da corrupção e assim o juiz terá cumprido seu dever. A impressão que tenho é de que, para prender Lula, Moro pegou todo e qualquer atalho que viu pela frente.
Ver tamanha perseguição política me inflama o espírito. Para quem não compartilha do meu entusiasmo, não pense no Lula. Imagine nesta quarta-feira apenas um brasileiro sendo julgado sem nenhuma imparcialidade, e que ele pode ser condenado, preso e arrancado da vida pública por representar ideias de mudanças na estrutura da nossa nação que a elite deste país não suportou. Poderemos dormir em paz?