Por definição, um dilema envolve uma decisão difícil, geralmente entre opções excludentes e insatisfatórias. Como em toda a ação humana, buscamos a situação mais benéfica entre as possíveis e, em uma análise que mistura a razão crítica com a emoção, escolhemos um caminho. Ganhamos um pouco e perdemos um pouco e, em algumas ocasiões, o ideal não é possível e precisamos aprender a conviver com os resultados.
Saber identificar o que é efetivamente melhor (ou menos pior) é o grande desafio. Nem sempre é a alternativa mais convidativa ou fácil de vender. Pelo contrário, muitas vezes exige que se abdique de interesses de imediato em prol do longo prazo, deixando um gosto amargo no ar. Os diversos assuntos em pauta hoje no Brasil são assim. Complexos pelo emaranhado de normas, ao mesmo tempo que conceitualmente simples.
A crise política e econômica que assola o país já há alguns anos acabou precipitando a discussão de assuntos que ficavam convenientemente guardados embaixo do tapete. Mas já não há tapete que baste e a urgência para a decisão empurra o debate para longe da razão.
A reforma da Previdência é um bom exemplo. Sua estrutura foi montada à revelia da matemática. Por décadas, uma conta foi acumulada e, agora, precisará ser paga. Preservar o modelo significa a inviabilização fiscal do Estado. Por outro lado, a mudança nas regras é tratada como uma malfeitoria e gera a indignação de setores da população. A vontade de encontrar outra solução não significa que exista ou que seja aceita. Para uns, muda muito, para outros, muito pouco. As privatizações passam por um processo semelhante. Deficitárias ou não, a existência de empresas estatais já é motivo de grandes debates per se. E fica a questão: que modelo atende melhor o cidadão? Mercado controlado ou competitivo? Controle pelo aparato burocrático ou em tempo real pelo consumidor? Viabilidade do Estado ou manutenção do gasto?
Em um mundo em que todos precisam ter uma opinião sobre tudo, o mais difícil é abstrair o interesse pessoal de uma equação assim para buscar a melhor solução. Ou ter maturidade para aceitar o que é necessário e possível, mesmo tendo a certeza de que não é o ideal.