No auge do meteórico e frágil crescimento brasileiro de 2010, surgiu a expressão "apagão de talentos".
Nesse período, o Brasil foi destaque na economia mundial. O jornal The Economist estampou o Cristo Redentor de braços aberto para o mundo. O gigante havia acordado. Com os negócios indo de vento em popa, as empresas aceleraram as contratações. A demanda crescente fez com que os salários de admissão subissem como nunca. Mas, o inevitável aconteceu: faltou mão de obra qualificada.
O tal apagão de talentos aparecia nas manchetes dos jornais e nos fóruns de recursos humanos. A reclamação dos empresários estava na falta de pessoas qualificadas para dar conta dos projetos e das oportunidades.
Somos um país que cresce sem planejamento e é acostumado com sobressaltos. Prova disso é que iniciamos um período de crise e demissões em 2014. Ou seja, o apagão foi exterminado pela queda da economia. E aí o cenário mudou novamente. Voltaram a sobrar pessoas no mercado. O discurso de ausência de pessoas qualificadas desapareceu. Ao contrário, temos um mercado inundado de pessoas competentes e sem trabalho.
As projeções para os próximos anos apontam para uma retomada no crescimento. Os cenários variam, mas todos mostram o final de um ciclo de recessão.
Diante disso, estamos fadados a voltar a falar em apagão de pessoas, principalmente das mais qualificadas. Basta a economia crescer e voltaremos a lamentar a ausência de profissionais.
Pessoas não são coisas que ficam em estoque. Precisam ser preparadas. Contratar querendo resultados imediatos é uma fantasia. A visão limitante de curto prazo é um câncer organizacional.
Nossa cultura não coloca o planejamento como prioridade. Nosso primitivismo no famoso bordão "deixa a vida me levar", do Zeca Pagodinho, certamente nos colocará limites para avançar de maneira sustentável. É um modelo com sinais de colapso.
Precisamos investir mais tempo em planejamento e nos anteciparmos nas ações que envolvem contratação e desenvolvimento de pessoas. Esperar a economia aquecer para começar a buscar pessoas e depois cobrar resultados imediatos ficam na conta de desperdício de tempo e energia.
Na verdade, o apagão que temos não é de talentos. É um apagão de gestão e estratégia que começa na administração do país, passa pelas empresas e termina na carreira dos indivíduos.