Somente 7% dos brasileiros saem do Ensino Médio com as habilidades esperadas em matemática. Isso explica, em parte, o fato de pouca gente perceber quando há falácias numéricas em argumentos sobre as contas públicas, vindos de governos ou de outras entidades.
Mesmo aqueles que têm a capacidade intelectual não o fazem, por falta de curiosidade, criticidade e espírito cívico, muitas vezes explicada pelo fato de serem parte de grupos privilegiados que se beneficiam com o estado atual das coisas, como funcionários públicos, aposentados em regimes privilegiados e empresários que têm no governo seu cliente ou financiador. A sociedade civil não está suficientemente conectada em torno do interesse público.
Uma organização espalha pela internet dados sobre a dívida de grandes empresas (entre elas, algumas falidas) com o INSS e compara esse número com o déficit do sistema previdenciário, alegando que, se a dívida das empresas fosse paga, o problema estaria resolvido. A peça informacional sequer explica se o déficit previdenciário comparado com a dívida das empresas está em valores mensais ou anuais. Mesmo que não pesquisasse esse dado, o cidadão mais crítico notaria que o pagamento da dívida empresarial poderia até cobrir o buraco por um tempo, mas não resolveria o problema.
Ainda no tema da Previdência, há diversas versões – a maioria absurda – da conta do déficit. Inflam receitas, ocultam despesas. Fazem uma cortina de fumaça enorme em torno do fato de que esse é um problema fundamentalmente distributivo. Há grupos que recebem muito mais do que outros. Ou seja, o Estado atua como gerador da desigualdade.
O mesmo tipo de recurso retórico ofusca o debate produtivo em torno da situação financeira das unidades da federação. Como ninguém checa os números, acabamos não chegando ao cerne da discussão: gastar mais significa apostar em uma mudança drástica no pacto federativo no futuro, que venha a salvar os Estados e municípios. Gastar menos significa preservar um pouco do poder de barganha perante os credores, sobretudo a União.
Enquanto pouca gente fizer conta nesse país, a única motivação para isso continuará sendo agir em benefício próprio.