O parlamento deve estabelecer as regras do jogo eleitoral com responsabilidade: assim pensa um bom democrata. Porém, uma análise da lei das eleições apresenta um dado alarmante: desde 1997, foram realizados dez pleitos e a lei sofreu treze modificações. Essa quantidade de mudanças não tem sido acompanhada da necessária qualidade, o que produz um resultado desastroso. A elaboração de textos dúbios e a revogação de artigos que nunca entraram em vigor são exemplos da falta de seriedade nessas reformas.
Cada reforma acrescenta boas razões para um ceticismo ainda maior sobre a crença de que a saída para a crise do nosso sistema passa pelo correto funcionamento das instituições
Depois de flertar com o sistema distrital e a antecipação do registro da candidatura, o legislador aprovou outro retalho de reforma eleitoral. Vedada a doação empresarial, o Congresso buscou outras formas de arrecadação instituindo um fundo público e o financiamento coletivo. Contudo, em nada investiu na atualização de mecanismos de controle das contas de campanha, desprezando que tão importante quanto a forma de financiamento é a possibilidade de uma adequada fiscalização desses recursos.
Na propaganda, limitou ainda mais a propaganda em bens públicos e particulares (admitindo as bandeiras e os adesivos), o que, aliado ao diminuto tempo de campanha, preserva a lógica de diminuir a renovação das bancadas. Por fim, tornou lícita a contribuição dos filiados para os partidos políticos, imprimindo um caráter oficial à partidarização da estrutura estatal pela designação de cargos em comissão e de empregos temporários como forma de aumentar a arrecadação partidária.
Enfim, cada reforma acrescenta boas razões para um ceticismo ainda maior sobre a crença de que a saída para a crise do nosso sistema passa pelo correto funcionamento das instituições. Enquanto não soubermos as perguntas certas para a intrincada solução da reforma política-eleitoral, não teremos as respostas adequadas. De qualquer sorte, a busca de novas mudanças deve ter por base a atitude do bom democrata, defendida por Norberto Bobbio, de "não se iludir com o melhor e não se resignar com o pior". Aqui, porém, cabe um adendo à ideia de Bobbio: em nosso país, as mudanças legislativas têm trazido, em regra, mais do que ilusão (com o melhor), uma robusta e permanente fonte de (ir)resignação (com o pior).