Somos um Estado de pessoas que lutaram para estabelecer fronteiras, que trabalharam duro para erguer suas casas e criar suas famílias. Um Estado cujo legado poderia ser traduzido pelo amor ao trabalho e ao orgulho de se fazer bem-feito. Éramos dos lugares com mais segurança, melhor educação e qualidade de vida. Aqui, a agropecuária se fez forte, nasceram indústrias, comércios e tecnologias. Descendemos de um povo empreendedor, que transformou condições adversas em motivação para avançar. Via-se o brilho nos olhos das pessoas ao se referirem aos seus sonhos e a suas conquistas.
Esse lugar que existia aos poucos ficou para trás. Em que momento perdemos essa ambição? Perdemos muito mais do que empresas e pessoas, perdemos oportunidades e sonhadores. Deixamos o empreendedorismo de lado, com certa vergonha até, para nos abraçarmos a um Estado pesado e burocrático, que vive para si. Se, nos anos 1950, erguia-se em Porto Alegre um prédio com mais de cem metros de altura, hoje dificilmente se consegue licença para passar dos 52. Se, em 1958, com três anos de obras, a ponte móvel do Guaíba era inaugurada com 7,7 quilômetros, hoje somos incapazes de entregar completa uma trincheira de 210 metros para a cidade em cinco anos. Encolhemos. Com justificativas supostamente nobres, normas e regulamentos se impõem sobre as pessoas, chegando ao ponto de interferir desde receitas de restaurantes até degraus de escadas.
O orçamento do Estado e como fazê-lo seguir vivendo dos pagadores de impostos, no entanto, é a única pauta que parece existir. Enfrentar o corporativismo para defender o que é viável é o início de um debate que deverá visar a adequação da estrutura para atender ao seu papel real.
Vamos conseguir nos recuperar apenas quando vencermos esse momento, entendendo que há muito mais em jogo. O nosso ambiente de negócios afasta profissionais, empresas e investimentos. Se recebe com naturalidade a notícia de alguém ou de alguma empresa que decide se mudar para fora, e com surpresa a direção contrária. Isso está errado e pode mudar. Nós podemos mudar. Deixar de aceitar os tímidos paliativos para pôr em marcha as transformações de que o Estado precisa para se desenvolver.
O debate sobre o futuro da máquina estatal é importante, mas está na hora de começarmos a ver além. Precisamos recuperar a vontade de fazer, de crescer, de evoluir, e olhar com ambição para o futuro.