* Professora e mestra em Letras
Ultimamente, ao olhar a minha conta bancária, eu entendo o que significa "caça às bruxas" pelos governantes. Ainda recebemos parcelados em parcelas/esmolas como se fôssemos pedintes e não pessoas formadoras de opinião que estudaram uma vida inteira. Mas ninguém se importa mais. É, senhor governador, como vamos trabalhar se as passagens escolares acabaram, se não tenho marido ou pai rico para me "ajudar". Também não possuo uma varinha mágica de bruxa para transformar as minhas dívidas em dinheiro, não possuo um pozinho para afastar a insônia que me abate todas as noites, as drogas autorizadas não me acompanham.
Senhor governador, fui bem criada nos conceitos da ética e da honestidade, não sei comprar sem pagar. Possuo uma vergonha universal por todos os governantes que massacram os pequenos em detrimento dos maiores (empresários). Entretanto, esse embaraço não quita as nossas contas, senhor governador. Estamos nos tornando miseráveis à espera das "esmolas mensais" que o senhor quer oficializar, não há como pagar aluguel, luz, água, telefone em dia, pois não há uma data exata.
Já sei, senhor governador, iremos nos acostumar com isso, vivendo de simpatia, da boa vontade e do amor aos alunos. Mas isso não é aceito pelos nossos credores, não se importam com valores, querem o vil metal, e ninguém liga mais para nós! Logo, logo nós trilharemos maltrapilhos em longas passeatas com canequinhas na mão, pedindo só os nossos salários mesmo, sem nenhum aumento. E, ainda assim, "os caras do poder" vão nos dizer que professor é vocação...
Parafraseando o poeta, digo-lhes: o preço do feijão não cabe nos sentimentos, o preço do arroz não cabe na boa vontade, não cabem no amor pelos alunos o gás, a luz, o telefone, a sonegação do leite, da carne, do açúcar, do pão. Somente cabe no que o senhor governador nos pede: o homem sem estômago, a mulher de nuvens, a fruta sem preço e uma vida de faz de conta que não podemos ter! Caríssimo governador, pare de parcelar nossos salários, é só isso.