A data de hoje seria prioritariamente de celebração à Pátria, pelos 195 anos de independência. A verdadeira avalanche de denúncias que veio à tona nos últimos dias, porém, reforça a necessidade de o país persistir no combate à corrupção e de os brasileiros darem atenção especial à cidadania. A urgência se mostra maior justamente em momentos nos quais, como ocorre agora, homens públicos com interesses contrariados se aproveitam de equívocos das instituições ou de ataques com potencial para enfraquecê-las para tentar desmoralizar o próprio combate à corrupção. Os brasileiros precisam resgatar sua autoestima abalada por essa onda de saques contra o setor público. Isso só ocorrerá quando a ética se impor no país.
A divulgação das gravações de conversas de executivos da JBS com ataques às instituições, as suspeitas relacionadas à escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos, a descoberta de malas de dinheiro atribuídas a um influente ex-auxiliar do presidente da República, a denúncia contra o PT, incluindo dois ex-presidentes da República – tudo isso chama a atenção para o quanto o combate à corrupção não pode esmorecer. A missão de levá-lo adiante é das instituições. Os cidadãos precisam se mostrar permanentemente vigilantes para que elas não se desviem de suas atribuições.
Nesse momento, o desafio maior é do Ministério Público, hoje abalado pela suspeita de um de seus membros ter atuado como agente duplo para favorecer o dono da JBS, justamente o que foi contemplado com uma no mínimo discutível imunidade penal. A saída mais sensata, no caso, é a determinada pela presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia. Diante da divulgação do conteúdo dos áudios, a ministra determinou uma investigação "clara, profunda e definitiva das alegações, em respeito ao direito dos cidadãos brasileiros a um Judiciário honrado".
A alternativa inconcebível, no caso, é a escolhida por políticos de maneira geral. A tendência da maioria, quando confrontada com denúncias, é optar não pela defesa, mas por ações corporativistas e fisiológicas como forma de autopreservação.
Os brasileiros, hoje tomados pelo espírito cívico num país combalido por fraudes, não podem perder de vista: é justamente nos momentos mais difíceis que o combate à corrupção precisa ser reforçado. O caminho inclui maior atuação cívica e o fortalecimento das instituições.