Sou do tipo de gente com muitas fobias. Acordei com fortes dores na cabeça já pensando no pior: "é gay"! Aflita, liguei para minhas amigas psicólogas em busca de diagnóstico. Por essas coincidências da vida, sou rodeada de uma quantidade acima da média de psicólogas – o que me garante uma boa dose de aconselhamento gratuito.
Fui logo perguntando: posso ter contraído o vírus enquanto assistia ao show da Pabllo Vittar no Rock in Rio? Juro que não foram mais de 10 segundos entre uma zapeada e outra na TV. Mas o veredito foi categórico. Não era gay e meu crescente interesse por Lady Gaga não tinha relação com as dores.
Minhas psicólogas são desse tipo de profissional excelente, que se atualiza para oferecer atendimento de qualidade às mazelas da mente e das emoções.
Não duvido que existam meandros jurídicos que autorizem a caça a canhotos, a criminalização dos grupos de WhatsApp ou a prisão de todas as pessoas que não gostam de cachorros.
Já as vi discutirem apaixonadamente temas importantes em muitos jantares de que participei. Fico pensando: quem consegue concatenar assuntos tão complexos enquanto come uma macarronada? Elas são desse tipo de ser evoluído.
Muito diferente teria sido se eu consultasse a profissional que entrou com uma ação no Distrito Federal – aquela que abre brecha para a terapia de reversão sexual. Na privilegiada bolha em que vivo, a "cura gay" não é nada além de uma lembrança de tempos passados e tenebrosos...
Quanto ao juiz que autorizou tal disparate, fico ao mesmo tempo chocada e fascinada. A interpretação da lei é uma tarefa complexa. Não duvido que existam meandros jurídicos que autorizem a caça a canhotos, a criminalização dos grupos de WhatsApp ou a prisão de todas as pessoas que não gostam de cachorros. Se pudesse, perguntaria para minha amiga advogada, mas, em vez de se preocupar com a cura gay, ela foi fazer coisa melhor: migrou para a área da gastronomia.
Em tempo: já que não estou com gay, posso falar de outra coisa que me tira o sono. Ao que tudo indica, a III Guerra Mundial vai estourar justamente na minha vez de habitar este planeta. Poxa, será que não dava para segurar mais uns 80 anos? Os topetudos (o americano e o coreano) têm se esforçado ao máximo para que eu não escape. O que resta é agilizar a matrícula no crossfit e estocar água. Claro que sempre torcendo para que eles se distraiam com outras coisinhas bobas: aquecimento global, exploração espacial ou, quem sabe, até a boa e velha democracia.
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