* Advogado
Centenas de obras literárias universais fazem prova de que não há nada de novo na face da terra. Sobretudo no que tange ao comportamento humano, especialmente no exercício do poder.
O escritor e filósofo franco-argelino Albert Camus (1913-1960) é um destes autores que _ ao retratar as contradições do seu tempo - legaram ensinamentos que ainda hoje se confirmam.
Na sua obra denominada O Homem Revoltado, Camus analisa o conceito da revolta de um ponto de vista social e histórico. Ressalve-se que a obra surge em 1951, em meio a guerra fria e a crescente decepção com as idéias da esquerda francesa.
Destaco duas expressões importantes da obra: "A revolta nasce do espetáculo da desrazão diante de uma condição injusta e incompreensível".
Mas, Camus faz uma ressalva importante: "É necessário procurar dentro da própria revolta fundamentos para seu modo de conduzir-se na atualidade."
Dito de outro modo, a inquietude, a indignação e a revolta do cidadão ultrapassam a sequência de reações diante dos fatos opressores, e alcança aquele sentimento humano e definitivo de que assim como está não é mais possível. "Além daqui, não!".
As crescentes e sucessivas condutas alheias agressivas e imorais determinam que o cidadão fixe um limite de tolerância e um limite à ousadia do (trans)agressor.
Feito isto, desperta se lhe um sentimento poderoso. Aquilo que antes era um sofrimento individual agora é um sentimento de identidade com o outro oprimido.
Diz Camus: "...essa evidência tira o indivíduo de sua solidão. Ela é um território comum que fundamenta o primeiro valor dos homens. Eu me revolto, logo existimos".
Camus denunciava o fanatismo de outros intelectuais, que acusava de míopes e seduzidos pelas ideologias, incapazes de formular (auto) criticas racionais.
Não lhe parece que estas idéias guardam relação direta com o que estamos vivenciando atualmente no Brasil? Afinal, nosso sentimento de revolta não tem todas as formas e razões para ser legitimo?
E ao nos revoltarmos não estamos afirmando que há um limite? E este limite não distingue o nefasto e condenável daquilo que é bom e preservável?
O sentimento de revolta _ às vezes contra a lei e as autoridades _ se reveste do direito de não ser oprimido, enganado e roubado!