* Psiquiatra, psicanalista e docente da Fundação Universitária Mário Martins
Atualmente, em torno de 1 milhão de pessoas se suicidam no mundo. Até o final da leitura deste artigo, mais de duas pessoas se suicidarão, ou seja um suicídio a cada 40 segundos. E no Brasil ocorre um suicídio a cada 90 minutos. Estes índices só são menores que mortes causadas por doenças cardiológicas, câncer, doenças respiratórias e neurológicas. Na adolescência, o suicídio é a segunda maior causa de morte, após os acidentes, dentre os quais muitos destes são suicídios encobertos. No passado, muitas doenças como Aids eram vistas como tabu, assim como o suicídio era falado e ainda o é de forma velada; como se falar desta situação estimulasse o ato suicida.
Este tabu é que se tenta desmistificar, falando deste tema no mundo inteiro e tendo no mês de setembro o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio. A dificuldade é que o suicídio está na contramão da vida, despertando sentimentos dos mais variados para quem depara com uma situação desta. Na maior parte das vezes, as pessoas se afastam, pois não sabem o que fazer, ou acham que não são especialistas para abordarem o problema. Aí que reside o grande engano, nove entre dez pessoas poderiam ter esta situação prevenida caso houvesse um interlocutor atento e sensível. Mostrar um interesse genuíno no sofrimento da outra pessoa, e estimular que procure um especialista, pode fazer toda a diferença. Na grande maioria destes eventos, tentativa de suicídio e suicídio, encontramos a associação de doenças mentais, que bem abordadas e tratadas podem proporcionar um encaminhamento mais saudável.
Nestes 30 anos da Fundação Universitária Mário Martins, dedicados ao ensino, pesquisa e tratamento das doenças mentais, a prevenção e o tratamento desta condição é algo que faz parte do nosso dia a dia. A instituição está engajada nesta campanha do setembro amarelo, conhecida como momento da prevenção mundial do suicídio.
Portanto, diferente de tempos anteriores, nos quais se sugeria não falarmos de suicídio pelo receio de que pudesse favorecer a ocorrência deste, hoje, devemos sim, falar abertamente sobre sentimentos e pensamentos, principalmente suicídio, para diminuirmos esta estatística que nos assola como uma das principais causas de morte da humanidade. Este ato ocorre em pessoas produtivas, assim como em jovens que têm seus sonhos de vida abreviados de forma tão trágica.
Devemos ficar atentos e sensíveis para o sofrimento do outro, sabendo sim que temos muito o que fazer para enfrentar e ajudar na prevenção do suicídio.