* Professor, engenheiro e deputado estadual (PT- RS)
Alertei aqui que vivíamos "tempos regressivos e obscuros" e, recentemente, o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência disse que "voltaremos a depender totalmente da tecnologia estrangeira".
Sem ingenuidade, o conhecimento também nutre-se da relatividade de uma verdade que, perversamente, equivale a explicitar a visão dos vencedores sobre os vencidos. E muitos não percebem que uns apenas podem atingir seus objetivos ao preço de semearem desesperos e desesperados entre outros e, ainda, desconstruir a noção de nação.
Numa sociedade conformada que não detém o conhecimento crítico, as utopias se identificarão com medíocres desejos de consumo, deparando com um universo ausente de sonhos, privado da fugidia e não menos essencial sensibilidade das quimeras. Assim, brutaliza-se o cotidiano e as grávidas cinturas das cidades tornam-se um pouco mais esse gelatinoso território de incertezas e violências.
Recapturar, pois, o caráter crítico do saber implica contrariar o espírito determinante do nosso tempo. E, sobretudo, combinar o reencontro do processo da razão e da emoção contra o ódio, a brutalização e a irracionalidade.
Explorar novas dimensões conceituais implica, talvez, pensar em um outro tipo de "mercado". Que não signifique a submissão da razão à irracional espontaneidade mercantil, sem determinar-se só pela lógica do econômico, embora seja muito importante. Uma sociedade não pode ser capturada pela lógica da financeirização.
O acriticismo se origina dessa espécie de escambo universal que a humanidade já produziu e irá reproduzir ainda em seus processos científicos, tecnológicos e inovativos, no desvendamento e na apropriação das novas realidades orientadas por uma opção submissa e entreguista, levando a sociedade a pagar seu preço.
Atualizar nosso compromisso com o conhecimento é não abandonar seu caráter crítico, sustentando-o nas melhores possibilidades éticas produzidas e reproduzidas ao longo da civilização.
É propor à sociedade do conhecimento um novo paradigma oposto à multiplicação da irracionalidade: o do "mercado da lucidez" que promova os intercâmbios entre as pessoas, proporcionando o fraternal comércio do saber e instituindo a razão como a moeda fundamental das trocas do gênero humano.