Se o empreendedorismo é o motor do desenvolvimento econômico, precisamos entender como nascem os ecossistemas favoráveis à criação e crescimento de empresas. O Vale do Silício, por exemplo, é conhecido como o mais famoso polo empreendedor do mundo, mas era um lugar muito diferente há algumas décadas. Permita-me contar uma breve história.
O Vale não seria o que é hoje se não fosse por uma única empresa, a Fairchild Semiconductor, fundada por oito sócios em 1957. Palo Alto, na época, talvez não fosse a melhor região: não havia investidores, o mercado era limitado e a oferta de trabalhadores qualificados era quase inexistente. Com esforço, os sócios receberam capital e conquistaram os primeiros clientes. A empresa começou a crescer aceleradamente e, em nove anos, se tornou a segunda maior do setor, empregando 4 mil pessoas.
A moral da história começa aqui: o ecossistema começou a florescer quando o sucesso da Fairchild passou a inspirar outras pessoas a querem empreender, incluindo os próprios funcionários. Eles fundaram 31 empresas em 12 anos. Os cofundadores, além de ajudarem os novos empreendedores com conhecimento e investimento, iniciaram outros negócios. A Fairchild exerceu um poder multiplicador e hoje 70% das empresas do Vale com capital aberto foram, de alguma forma, influenciadas por ela. O fim da história já conhecemos, o Vale se tornou o mais conhecido ecossistema de inovação.
A história do Vale nos deixa alguns aprendizados. O primeiro é que é possível companhias relevantes se desenvolverem fora dos grandes centros. O segundo é o fato de que basta um pequeno grupo de scale-ups para gerar novos negócios e criar milhares de empregos. Por fim, percebemos que existe um modelo de sucesso a ser replicado para o desenvolvimento de outras comunidades. Um ciclo que passa pela criação do negócio, seu crescimento, a permanência do fundador no local de origem e o seu papel em servir de exemplo para outros empreendedores e reinvestir em uma nova geração por meio de mentoria e investimento.
No Brasil, há alguns polos se formando, como os nossos vizinhos catarinenses e o San Pedro Valley, em Belo Horizonte (MG). Por aqui, observamos um ciclo contrário: grandes empresas ainda distantes de startups, burocracia desanimadora e evasão de talentos brilhantes. Precisamos gerar um debate de qualidade entre líderes e gestores públicos sobre como atrair e reter talentos, acelerar esse modelo de sucesso e, assim, recriar um ambiente empreendedor que há tempos deixou de ser exemplo a toda terra.