* Desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
Que as condutas antiéticas, violentas e desprezíveis nos mais amplos quadrantes lamentavelmente permearam nossa sociedade, todos sabemos. Nesse contexto, o episódio do aluno que agrediu fisicamente a professora que prestigiara, elogiara ou incitara, em redes sociais, o ato de jogar ovos em políticos ganhou visibilidade nacional, justamente porque atingiu o mais venerável reduto, depois da família, que ainda deveria servir de resistência às degradantes posturas ao início apontadas.
O presente é para falar do mestre. Aquele que ensina. O detentor de uma das mais nobres tarefas e que sobre o qual emociona inclusive falar.
A sagrada figura do professor, adstringindo-me especialmente àquele que exerce o mister como meio e razão de vida, em salas de aula, vê-se hoje bastante vilipendiada e desacatada, fruto, repito, da ruína de preceitos básicos de ética que penetraram e envolveram a sociedade. Daí porque, hoje, mais do que nunca, o professor há de manter uma postura altiva, respeitável, superior e, para isso, dar exemplo aos discípulos até no que possa parecer filigrana.
Logo, o simples fato de uma educadora, investida na função, prestigiar que se joguem ovos em quem quer que seja abre espaço e dá exemplo à incivilidade. E a incivilidade é o início do caos, é a falta de limite, de controle, de argumento; é a falta de respeito. Jamais podemos dar oportunidade a que incivilidades se criem ou propaguem, quanto mais elogiá-las. Digo isso, porque o fato lamentável que enseja o presente comentário se constitui na falência da relação professor/aluno; mestre/discípulo.
De se lembrar que um professor em sala de aula, principalmente de escola pública, está diante da mais absoluta diversidade de seres em desenvolvimento – carentes, abonados, cândidos, violentos, infratores, abandonados, equilibrados, revoltados, felizes ou infelizes. Em meio a tal contexto de profundas diferenças e origens, jamais pode o mestre demonstrar, mesmo que pense, aprovação para com qualquer incivilidade, pois ao atirar um ovo, em meio à desordem, pode receber uma pedra.
O professor, principalmente, porque mestre, não se pode descuidar de tudo isso, relevando-se que a instantaneidade e acessibilidade generalizada proporcionadas pelas redes sociais, onde todos são "amigos", amalgamou nossas manifestações enquanto simples cidadãos com as que devemos ter enquanto profissionais.
Assim, seja qual for a opinião emanada de um educador, deve ser ela, sempre, cuidadosamente entremeada e revestida por mensagens de tolerância, amor e respeito ao próximo.