* Mestrando e Doutorando em Direito - Portugal
O mês de agosto que legalmente era conhecido como muito frio e cinza, laureado com grandes geadas e até mesmo neve, vem sendo deturpado pelo calor fora de época, sinais de novos tempos, uma consequência das desmedidas atitudes dos humanos que habitam a Terra. Mas algo que chama atenção, quando lançamos um atento olhar sobre as matas que compõem o cenário ondulado da nossa região e Estado, são as variadas nuances de flores dos enormes ipês, que ludibriados pelo clima, sobressaem e antecipam sua floração. Poucos sabem que o ipê também é conhecido por tabebuia, pau-d'arco, peúva, entre outros contidos no glossário.
O ipê que legou no passado ao Brasil, quando ainda em formação, valiosas e requintadas mobílias por ser uma madeira muito resistente, hoje ornamenta praças e alamedas de cidades, desde as mais pacatas até as maiores selvas urbanas. A casca dessa magnífica árvore tem um vasto poder medicinal na cura das mais variadas doenças e, inclusive até a flor pode ser usada na alimentação humana. Eis que com tantos desequilíbrios climáticos, a saúde de muitos indivíduos padece, porém a utilização e os benefícios dessa planta ao organismo, é algo ignorado pela maioria dos cidadãos da nossa "Pátria amada Brasil".
Entre tantos devaneios e acontecimentos presenciados nos últimos tempos, se forem aqui citados faltaria até espaço (desemprego, violência, corrupção, mazelas políticas, etc..) fatos que deixam os brasileiros aviltados e atônitos. Podemos constatar que não só os ipês são enganados pelos nocivos efeitos climáticos, a metáfora pode ser usada por nós mesmos, que a todo dia somos enganados e manipulados não só pelo clima, quem dera fosse. Nosso engano advém dos líderes maquiavélicos e governantes superiores de todos os Três Poderes da sociedade, na qual estamos (in)felizmente inseridos. Quando ligamos a TV ou ouvimos o noticiário, somos metralhados por tanta negatividade, num liame lúgubre, que dificilmente conseguimos ficar imunes a tanto pavor.
Um Brasil onde há tudo e ao mesmo tempo falta tudo, aqui diferente de muitos países, tudo o que se planta a terra produz. Existe tanta inversão de valores, tanto poder concentrado em mãos de poucos, uma casta privilegiada, que acaba sempre por usurpar direitos dos menos favorecidos e descamisados. Ao passo que grandes fortunas são engendradas por criaturas que não se preocupam com a vida da grande massa de brasileiros vulneráveis. Não só a seara de direitos fundamentais carece de uma orientação valorativa, cultural, voltada à educação, e notório é que até o lado espiritual das pessoas está fenecendo, para poder assim ser tecida e permeada uma drástica e imediata mudança na conjuntura parca em que o país se encontra.
Claro, não devemos generalizar, dentro desse tabuleiro hediondo e sombrio, há sempre uma minoria de notícias boas, alegres, de pessoas que motivadas por dias melhores, semeiam e edificam ideias construtivas em todos os hemisférios desse mundo de Deus. E ainda bem que elas existem, caso contrário nossos dias seriam ainda mais incertos e enigmáticos.
Enquanto isso, sigamos como os ipês, que mesmo enganados pelos maléficos efeitos globais do mundo contemporâneo, florescem prematuramente, espalham energias positivas aos olhos de quem ainda os vê, murcham e rapidamente se vão, acabando o suntuoso ciclo. Que o nosso otimismo por dias melhores não seja efêmero como a floração dos ipês, que emolduram por curto tempo o cenário de nossos dias. O Brasil precisa de mudanças.
P.S: A lei 6.507 oficializou a flor do ipê como a Flor Nacional do Brasil.