Ao assistir a votação do relatório de arquivamento da acusação do procurador Geral da República (PGR) ao presidente Michel Temer, me vem à cabeça que, mesmo que consigamos limpar a corrupção do sistema político, as conquistas das aprovações no Congresso são fruto de um ativo balcão de negociações nos bastidores. A moeda corrente vai desde o que é legal, mas não moral, passando pela permanência na base através de cargos em ministérios e estatais, chegando às transações ilegais envolvendo propina, origem do mensalão e Lava-Jato.
Ao ouvir a breve e enfadonha justificativa de cada voto, questiono qual o critério que cada deputado usou para decidir seu voto. Pergunto qual foi a real convicção. A preocupação com os seus eleitores na próxima eleição? A indicação do partido? Ganho de algum benefício? Ou, de fato, como deveria ser, o que entendem como o melhor para o Brasil?
As perguntas são muitas e o momento é de reflexão e mudanças. Mesmo que tenhamos exímios políticos no poder, será que um dia chegaremos a um modelo político no qual os partidos trabalhem pelo que de fato o Brasil necessita, ao invés de um modelo oneroso para a sociedade? O custo elevado começa pela campanha eleitoral e não termina nela. Há troca de favores num "toma lá, dá cá" sem fim. Há preço para aprovação de projetos e reformas. Fala-se em fidelidade partidária que não passa de uma expressão porque ela depende só do quanto o partido ganha e não dos benefícios para o país e os cidadãos. Não existe fidelidade nem na ideologia que compõe as siglas da maioria dos partidos.
O modelo atual deve ser revisto com urgência. Que democracia é esta que incrementa cada vez mais os custos, engorda a burocracia e torna o Estado ainda mais pesado e ineficiente em prover o básico para a sociedade, passo que deixa quem produz e gera empregos mais lentos e menos competitivos?
Se conseguirmos acabar com a corrupção, será um grande avanço. Simultaneamente, precisamos continuar cobrando que o Legislativo, Executivo e Judiciário tenham ética e moral e que sejam proibidos e impossibilitados de legislar em causa própria. Direitos todos têm. O que está faltando mesmo são os deveres.