O fim da televisão chegou a ser anunciado por diversos pesquisadores apocalípticos, mas ela está cada vez mais viva. No Brasil está prestes a completar 67 anos, neste período foi ocupando um a um os cômodos das nossas casas, hoje está nos computadores pessoais, nos tabletes e nos celulares inteligentes. Agora é possível ver televisão em qualquer lugar e a qualquer hora.
Os mais jovens pensam que não assistem televisão, mas nunca estiveram mais conectados (palavra da moda) com o conteúdo televisivo do que agora, quando os trend topics do Twitter são sempre sobre a programação, ou quando passam horas e horas em maratonas para assistir suas séries preferidas, um gênero de programa televisivo por excelência.
No Brasil, a televisão aberta também vai bem obrigado. Na sua abrangência (99% do território nacional), na sua penetração (95,7% dos domicílios), na frequência da sua audiência (77% dos telespectadores assistem televisão todos os dias), na sua centralidade (citada como fonte de informação por nove entre dez entrevistados), dados da última Pesquisa Brasileira de Mídia, divulgados em 2016.
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Contudo, a maior força da televisão está em ser o principal espaço público da nossa sociedade, onde todas as discussões acontecem. E, como diz Joan Ferrés, no livro Televisão Subliminar, a televisão sempre nos fala mais pela emoção do que pela razão.
Aí, entram as telenovelas que ao longo do tempo foram capazes de discutir temas que não eram enfrentados nem pelo jornalismo. Assuntos que provocam, que chocam. Uma delas falou sobre os sem-terra, outra sobre crianças desaparecidas, uma escancarou os maus tratos dos idosos pela família, outra a ascensão da classe média, o homossexualismo, a falta de cuidado com o meio ambiente, na linda imagem do Velho Chico. Ou seja, enquanto torcemos para os mocinhos e odiamos os malvados vamos apreendendo emotivamente a ser melhores em sociedade, a pensar em nossos preconceitos, sempre tão escondidos de nós mesmos.
A Força do Querer provoca a sociedade para a discussão sobre gêneros, ou melhor, sobre os transgêneros. Uma linda menina que não se sente mulher. Delicadamente fomos acompanhando o desconforto dela com seu corpo, a estranheza da sua família, as dificuldades do seu amor. Ainda é cedo para saber onde a história vai dar na ficção. Mas aqui no mundo real o resultado não poderia ser mais efetivo. Estamos olhando para o diferente, falando sobre quem não é igual, um pouco menos ignorantes sobre o assunto. Assim a televisão, pode ser menos superficial, mais polêmica e por isso mesmo mais democrática. O caminho é este na ficção, no entretenimento, também pode ser no jornalismo, basta ter força e querer...
*Cristiane Finger é professora, doutora - PPGCOM- PUCRS, coordenadora do Grupo de Pesquisa Televisão e Audiência