* Advogado
O voto é uma condição necessária, mas, não, suficiente à democracia plena. Durante os anos de chumbo, alheados do direito de livre escolha política, lutamos por mais de duas décadas pelo resgate da liberdade política. Com a redemocratização, a Constituição de 88 elevou o sufrágio universal, o voto direto e secreto, com igual valor para todos, como elementos fundantes da soberania popular brasileira. Passamos a votar e nossas escolhas majoritárias acabaram elegendo canalhas e corruptos – estrelas de um teatro profano com peças de mensalão, petrolão e quejandos.
Ora, resta categoricamente demonstrado que a autoridade do ideal democrático requer, além do voto, a participação enérgica e ativa de pessoas dotadas de valores superiores e absolutamente descompromissadas com o carreirismo político. Quando a política vira profissão, o político eleito relega o Brasil para segundo plano, passando a se preocupar prioritariamente em se manter no poder, custe o que custar. Nesse contexto defectivo, a chamada impessoalidade da vida pública responsável é sequestrada por interesses privados localizados ou setoriais, criando uma intrincada relação troca de favores promíscuos ou ilícitos.
Felizmente, o que estamos vendo no Brasil é o ruir de uma velha estrutura de dominação do poder. Os políticos que aí estão, em sua vasta maioria, vão ser expulsos da vida pública, seja pelo voto ou por condenações judicias. A questão que se coloca é como e qual será a velocidade da transição. E, depois dessa transição, fica a dúvida do grau qualitativo do sistema que virá.
Sim, estamos num interregno que materializa a maior oportunidade política de transformação do Brasil. Nunca nosso país precisou tanto de seus bons cidadãos. A hora exige que todas as pessoas de bem – homens e mulheres comprometidos com a honra e decência de comportamentos – voltem a ser protagonistas e não, meros coadjuvantes da vida democrática. Só a coragem e a virtude elevam a democracia. Até quando, então, seremos reféns da nossa covardia cívica?