* Jornalista e cientista político
Há quase 90 anos, no dia 12 de julho de 1927, madrugada de uma terça-feira fria de inverno, nascia, na Rua Rivadávia Corrêa, 101, centro de Sant'Ana do Livramento, o guri que mudaria a história da cultura do Rio Grande do Sul: João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes.
Criado na vida rural, acostumado às lides campeiras, Paixão Côrtes gostava de usar indumentária tradicional, de andar a cavalo, ouvir música, dançar e sorver um bom chimarrão. Os anos passaram e Paixão mudou-se para Porto Alegre, onde foi estudar no IPA e, depois, no antigo Colégio Júlio de Castilhos, localizado próximo à Praça do Portão.
Em 1947, preocupado com a pouca valorização da cultura e dos costumes do povo gaúcho na capital rio-grandense, Paixão Côrtes junta-se a sete colegas estudantes e, assim, começam a materializar o que é hoje o Movimento Tradicionalista Gaúcho, conhecido e reconhecido mundialmente. O Grupo dos Oito, como ficou conhecido, resolveu participar do translado dos restos mortais de David Canabarro, de Livramento para Porto Alegre. Na Avenida Farrapos, próximo à Rua da Conceição, vestidos com as roupas do homem do campo, montaram seus cavalos e acompanharam o cortejo até o centro da Capital. Em 1948, Paixão, Barbosa Lessa e outros gaúchos fundam o 35 CTG, o primeiro centro de tradições, que funcionava no prédio da Farsul, na Avenida Borges de Medeiros.
Após a criação deste nobre espaço de valorização da cultura gaúcha, Paixão Côrtes começa, então, a jornada do Laçador de Cultura rio-grandense. Em suas viagens por vários rincões, ele vai anotando ou memorizando tudo o que vê. Para arquivar as informações coletadas, compra um gravador, máquina fotográfica e uma filmadora 8 milímetros. Como era um homem criado no campo, tinha facilidade de se comunicar com o gaúcho nativo, já que a forma de falar era a mesma de sua infância nos campos de Livramento.
Como resultado dessas andanças, Paixão e Lessa publicaram o Manual de Danças Gaúchas, em que foram registradas preciosidades como Chimarrita, Pezinho, Caranguejo, Cana-Verde, Xote, Rancheira, Pau-de-Fita e Balaio, entre outras. A publicação mostra a origem das danças, seus passos e sapateados característicos. A trajetória de Paixão Côrtes ainda reserva a ele o papel de modelo da estátua do Laçador, símbolo de Porto Alegre, e do Rio Grande do Sul – como agrônomo de profissão –, e de responsável pela implantação da ovinocultura no Estado. Por tudo isso é que esse homem singular da história deste Estado merece um título à sua altura. Paixão Côrtes: o Laçador de Cultura.