Você conclui que está mais pra lá do que pra cá em sua trajetória quando percebe que um de seus programas favoritos no fim de semana – tomar um café na livraria do shopping com a sua cara-metade antes de pegar um cinema – é o mesmíssimo programa que seus pais faziam e que na época você julgava, à distância, muito entediante. De repente, aproveitar a vida ganhou um novo significado.
Nós que estamos além dos 30 e poucos anos ainda somos jovens, não há como negar. Seria até precipitado se impressionar com uma barriguinha aqui ou uma dorzinha de joelho ali. Diferentemente do que sentíamos há uns 10 ou 15 anos, não temos medo da passagem do tempo e damos boas vindas aos 40, 50 e 60 anos: os amores ficarão mais maduros; as emoções, mais equilibradas; e as finanças, mais sólidas. Pelo menos essa é a teoria.
Mas contemplar a consolidação de uma geração ainda mais nova, com características e anseios próprios, é um exercício quase filosófico. Fomos os últimos a viver a transição de um mundo analógico para o digital e vimos as revoluções se tornarem cada vez mais frequentes. Já o pessoal que vem aí não tem tempo a perder: chega com pressa de viver e anseio por um crescimento profissional mais rápido.
Ao mesmo tempo em que admiro essa maneira de encarar as coisas, fico curioso para saber o que será desses jovens no futuro. Será que estamos errados nós, adultos ou quase adultos, ao adiar prazeres imediatos em nome de um projeto de vida, ao economizar para a aposentadoria ou ao valorizar a segurança de um emprego?
A conjuntura é desafiadora. Um relatório da McKinsey de 2016 lembra que a maioria dos que cresceram em economias avançadas no pós-guerra puderam presumir que estariam melhor de vida do que seus pais. Mas, entre 2005 e 2014, a renda real de 65% a 70% das famílias em 25 economias avançadas permaneceu estável ou caiu. Talvez a precaução, no final das contas, seja um conselho atemporal.