* Vereadora e líder da Bancada do PT na Câmara de Porto Alegre
Esta fala de um garoto dos Lanceiros, na saída forçada da Ocupação Lanceiros Negros, com uma concentração surpreendente, já carregadinho de mochila e bolsas da família, resume a luta duramente interrompida nesta noite fria quando a truculência de estado substituiu sua responsabilidade com as políticas sociais como a moradia.
Quando eu tentava passar pela barreira policial senti toda a impotência de quem luta desarmado diante do estado que cumpre sua função de impor a ordem desigual e injusta: jovens mulheres e homens conduzidos algemados, em sofrimento pela força imposta, pela pimenta ardendo nos olhos, pela dor da causa desprezada. Mesmo a investidura de deputado de Jefferson Fernandes, que corajosamente tentava novamente uma solução dialogada, não barrou a ordem.
Enquanto procurávamos nos assegurar que as famílias e crianças não estivessem submetidas a mais brutalidades, o garoto volta para dentro do prédio buscando o local onde era a biblioteca, onde tesouros que aprendeu a amar estavam todos espalhados, pisoteados, alvos das bombas, resistências e prisões... Saindo, ele me conta isso sem choro, com a frieza de quem cresceu ombreando a luta, mas com a determinação de quem está convencido das razões dela e que a escola, as bibliotecas e os sonhos de menino ainda vão construir um mundo para todos! Vamos recompor a biblioteca, vamos retomar a democracia!