É notável o esforço de membros do Ministério Público Federal para reaver dinheiro público desviado pela corrupção, mas o acordo de leniência firmado com o grupo que controla a JBS, propalado como o maior do mundo, é brando demais para o tamanho do estrago causado ao país. Ao concordarem que os R$ 10,3 bilhões do valor final sejam corrigidos apenas pelo IPCA, ao longo de 25 anos, os procuradores se preocuparam pouco em exigir garantias reais e suavizaram demais as condições. Na prática, o valor a ser desembolsado pela gigante do setor de carnes pode cair para até um terço do montante total, o que é inadmissível.
Mais do que no acordo firmado com a Odebrecht, no da JBS a sociedade tem razões de sobra para desconfiar que não foi observada a proporcionalidade entre a punição aplicada e os danos provocados pelo grupo. Se os termos da delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista já eram vistos como muito favoráveis, os do acordo de leniência passam ainda mais a ideia de um acerto favorável de pai para filho. Não pode haver condescendência nos casos de uso indevido de dinheiro público.
O país não fará justiça no sentido amplo do termo se estender a lei apenas aos corruptos, pegando leve com os corruptores. Os brasileiros precisam acreditar que a lei vale para todos, indistintamente. No caso da JBS, por mais que os proprietários tenham colaborado com informações importantes para a luta contra desvios no setor público, fica difícil dissipar a impressão de que o acordo saiu barato demais.