* Gestor de pessoas, consultor empresarial
No Brasil, país da corrupção, da impunidade, da diversidade e da cultura do coitadismo, há forte cobrança por parte do governo a fim de que as empresas atendam à cota mínima de pessoas com deficiência (PCD), e o esforço das empresas em buscar alternativas para fugir das multas por não alcançarem a demanda legal.
Acredito que as organizações não deveriam se atentar para tal aspecto legal, pois incluir está muito distante de um atendimento burocrático aos órgãos governamentais.
Incluir está relacionado a abrir espaço verdadeiro para os portadores de algum tipo de deficiência e que estão e são colocadas à margem da sociedade e do trabalho, tanto pelas empresas, como pela sociedade e, em muitos casos, pela própria família.
Incluir está relacionado ao amor ao próximo, onde é preciso deixar de lado o preconceito de "estorvo", de não produtivo e outros adjetivos diminutivos, pois alguém que tem algum tipo de deficiência, que pode ser uma limitação intelectual ou física ou ambas, é um ser humano igual a qualquer outro dito normal e, sim, tem capacidade de produzir e de interagir com os demais.
Incluir é envolver-se na causa, assumir, movimentar, criar espaço e consciência no ambiente de trabalho, ou fora dele, para oportunizar alguém menos favorecido dos ditos normais a ter seu espaço e mostrar seu valor. É permitir o aprimoramento de quem é marginalizado pela própria sociedade. A arte em incluir está ligada em quebrarmos o paradigma do "coitado" e da proteção por pena e tratarmos todos de forma igualitária (claro que é necessário observar as limitações físicas e intelectuais), ou seja, não discriminando uma pessoa que possui alguma limitação, pois ela será muito melhor em outros aspectos ou sentidos. Por exemplo, um indivíduo que possui falta de visão desenvolve outros sentidos que, inclusive, lhes possibilitem fazer atividades independentes de ajuda.
Para as firmas, um trabalho bem feito de inclusão, através do querer da direção, da preparação daqueles que exercem funções de liderança (ordem diretiva e conscientização) e de um processo que visa trazer portadores de alguma deficiência para serem efetivamente incluídos (é preciso estar bem consciente que esse deve ser o objetivo), traz consequências importantes como: a) o desenvolvimento de todos os colaboradores da mesma; b) visão diferenciada dos líderes quanto à forma de gerir pessoas com deficiência ou não, bem como dos demais recursos necessários; c) novas alternativas para atingir as metas; d) crescimento dos colaboradores como seres humanos; e) melhoria do clima interno; f) argumentos para os gestores trabalharem os demais colaboradores pelos exemplos das pessoas com deficiência, as quais, normalmente, transmitem muita motivação. Um bom projeto e ações efetivas que demonstrem inclusão de pessoas com deficiência servirão como ótimo argumento para as equipes de vendas, e igualmente úteis, nas negociações com fornecedores.
Há vários outros benefícios em que cada firma poderá usufruir de um programa de inclusão bem estruturado e efetivo. Por parte das pessoas incluídas podemos observar o amor contagiante que elas possuem pelo trabalho e pela empresa que as acolheu, a alegria por se sentirem úteis, conquistarem seus ganhos financeiros, vestirem o uniforme da empresa, possuírem crachá com sua foto e seu nome, almoçarem no restaurante da empresa e vários outros aspectos que acontecem no dia a dia. Já por parte dos familiares se vê os elogios pelo crescimento e "independência" dos incluídos, além de saírem da rotina diária de desocupação.
É lógico que nem tudo são flores. Há contratempos a serem vencidos e necessidade de muita atenção, dedicação, persistência, adaptações do ambiente e dos postos de trabalho, além de custos. Embora existam dificuldades, muitas organizações montaram projetos bem interessantes e transformaram a vida de pessoas com deficiência e repaginaram seus ambientes e quem lá convive e trabalha. Para uma PCD o importante é a inclusão. É se sentir útil. É receber oportunidades para se desenvolver e atuar profissionalmente. Portanto não devemos nos preocupar em atender à legislação, pois ela é consequência da efetiva inclusão.