Ao conhecer o Banco Original, controlado pela família Batista, logo entendi o primeiro truque da instituição: durante determinado período, só emprestara dinheiro a produtores rurais que concordavam com determinadas condições de fornecimento à JBS. Uma espécie de venda casada. O fornecedor da JBS aceitava os termos e levava crédito de brinde. Ou seja, o banco não se comportava de maneira independente, como manda a lei.
Outra coincidência marcante: o envolvimento do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, como suposto idealizador da guinada digital do banco. Meirelles não foi um mero conselheiro da J&F. Ele teve papel essencial na execução da estratégia do Original. Poderia ser considerado executivo do banco. Já seria eticamente questionável um ex-presidente do BC assumir a presidência de uma holding que é dona de um banco, mas a questão é mais grave. Só saiu de lá para assumir o Ministério da Fazenda, que tem forte influência sobre o sistema bancário.
Quando a JBS operou no mercado de câmbio para lucrar com sua própria delação, passou a ser investigada pela CVM, autarquia subordinada ao Ministério da Fazenda, ou seja, a Meirelles.
A terceira coincidência também é recente. Desde que se soube da delação de Joesley, o Original passou a executar uma estratégia de conquista de clientes. Oferece um limite pré-aprovado enorme em seus cartões de crédito, além de uma política de cashback na qual o cliente já começa ganhando R$ 50 e depois passa a receber dinheiro de volta a cada compra. Como se não bastasse, o consumidor também é premiado se indicar novos clientes. Não é financeiramente viável, em condições normais, oferecer condições tão favoráveis. Então, por que isso está acontecendo justamente agora? O Original passou a servir como uma forma mais elaborada de lavagem de dinheiro dos Batista. No momento em que o negócio de carnes passa a sofrer as consequências de toda a corrupção dos últimos anos, é preciso diversificar. Fazer o banco crescer, mesmo que de uma maneira menos lucrativa, é um imperativo.
As ações da JBS subiram após o acordo de leniência de R$ 10,3 bilhões a serem pagos em 25 anos (muito mais tempo do que levaram para receber uma quantia similar do BNDES). No fim das contas, o mercado entende que, para o ramo de negócios de carnes dos Batista, foram lucrativas as ilicitudes praticadas. Quando levamos em conta os potenciais ganhos dos Batista com a estratégia de diversificação para outros setores, que foi indiretamente beneficiada pelos crimes, fica ainda mais claro que eles vão vencer. Entraram nesse jogo como pequenos empresários do ramo de frigoríficos. Sairão como barões do setor de alimentos, banqueiros e industriários.