* Mãe do Henrique e da Júlia, bióloga, professora universitária, consultora em amamentação e blogueira no Plantão Materno
Há dois anos atendo mães com dificuldades em consultorias privadas de amamentação. Elas entendem a importância do leite materno, pois, geralmente, têm curso superior, boa situação financeira e acesso à informação. Com o intuito de informar mais mulheres, criei um blog e uma fanpage sobre diversos assuntos relacionados à maternidade e, em especial, ao aleitamento materno. Hoje, eu me questiono: é realmente possível promover aleitamento e empoderamento através das redes sociais? Quando tratamos questões tão abrangentes, o posicionamento da profissional nas redes sociais pode colaborar para o sucesso de sua tarefa? Nós trabalhamos com um recorte de classe e, portanto, como atingir quem não está nesse espaço? Segundo o IBGE, 58% da população brasileira tem acesso à internet, dos quais mais de 90% tem renda maior de 10 salários mínimos, ou seja, a informação alcança quem tem maior poder aquisitivo.
O ativismo digital é bastante importante, porém a informação não está chegando a quem mais precisa: a mulher pobre (e geralmente negra). Nossa militância nas redes sociais não pode ser maior que a escuta empática e a observação da mãe e bebê. Assim, para promover aleitamento e empoderamento precisamos ponderar entre a defesa das técnicas e das evidências e as necessidades e desejos daquela família, sem objetificar as mulheres.
Não podemos transformar as mulheres em "mãezinhas", precisamos dar nomes e rostos a estas pessoas, humanizando as redes sociais. Há uma enorme diferença entre o ativismo e a prática e precisamos entender que o sucesso do aleitamento é um conceito individual. A conduta no aconselhamento em aleitamento deve ser horizontal e não hierárquica, dando apoio para essa mulher fazer suas escolhas. Para isso, devemos entender o contexto social onde esta mulher vive, sua realidade e seus objetivos, e neste contexto, é dever do poder público garantir qualidade de atendimento e acesso à informação a todas as mulheres. É a partir dele que conseguimos construir uma prática real na promoção do aleitamento e do empoderamento feminino ao alcance de todas.