Com a divulgação da delação de Joesley Batista, a governabilidade representada por Michel Temer se tornou ainda mais frágil, praticamente insustentável. O presidente tem todo o direito de se defender e de se indignar com a armadilha montada por Joesley. Ainda assim, o tom da conversa, acrescida pelos detalhes do antigo relacionamento com o esquema JBS, demonstra que Temer violou, mais do que a liturgia do cargo, a confiança da sociedade, hoje descrente de que o governo tem os olhos postos nos interesses do Brasil.
Com o apoio a seu governo se esfarelando, Temer poderia ter a grandeza de reconhecer que um caminho rápido para a solução da crise é a mudança do ocupante do Planalto, com o cumprimento rigoroso do rito constitucional. Não foi por acaso que seu discurso de rejeição à renúncia, na quinta-feira, ajudou a derrubar ainda mais a Bolsa. E a razão é cristalina: os agentes econômicos não acreditam mais na capacidade de Temer tirar o país da crise em que foi enfiado pelo governo de Dilma Rousseff. Mais do que nunca, porém, o Brasil precisa de um governo estável e da credibilidade de seu líder máximo para que sejam aprovadas as reformas trabalhista e da Previdência, fundamentais para modernizar o país e colocar a economia finalmente na trilha do desenvolvimento.
É verdade que o presidente foi iludido por Joesley Batista. Mas também é verdade que tal não ocorreria se ambos não mantivessem um pacto de favores e benesses incompatíveis com a Presidência da República. Queira ou não, por seu cargo, Michel Temer representa tristemente hoje a foz do rio onde desemboca a corrupção em Brasília.
O delator Joesley Batista, por sua vez, é um exemplo rematado do banditismo político que se nutre da corrupção no país. É triste constatar que, em meio à devastação produzida por seus malfeitos, o empresário possa sair do episódio não só em liberdade, como provavelmente ainda mais rico, graças à especulação com a crise. Por todos os seus atos, amplamente confessados, Joesley não deveria estar em Nova York, mas em Curitiba, onde poderia responder pelas propinas que azeitaram o crescimento de sua empresa na última década e meia.
Temer e Joesley, no entanto, são apenas o ápice de um modelo falido, carcomido pela promiscuidade que se instalou entre certas empresas, a ganância de servidores e a falta de escrúpulos de políticos. Só uma ampla reforma política, com a renovação profunda de nomes e partidos, poderá trazer alento duradouro para a democracia e para que episódios como esse sejam enterrados para sempre no passado.