A agressividade nas manifestações registradas em Brasília e a virulência verbal e física nos plenários do Congresso demonstram que o país está perigosamente sucumbindo à lógica do Facebook, em que o exagero e a passionalidade são a regra, em detrimento da necessária moderação em momentos críticos como o atual. Neste país de Facebook, a velocidade é mais importante do que o cuidado; a versão, mais relevante do que o fato; a repercussão, mais cobiçada do que a verdade. A pressa nunca foi tão amiga da imprecisão.
O exagero garante a amplificação e o topo na timeline de assuntos da vida nacional. Há exagero nos protestos, exagero na repressão, exagero no plenário da Câmara, exagero nas contrapartidas às delações, exagero nas prisões temporárias, exagero nas reivindicações egoístas das corporações, exagero no furor condenatório, exagero nos egocentrismos com e sem toga. A lista é longa e se une pelo frágil fio da inconsistência e da passionalidade.
Há exagero até mesmo na desfaçatez de aproveitadores como o senador Renan Calheiros, que se arvora em paradigma da moralidade, mas não resiste sequer ao primeiro sopro de ética e moralidade. Renan, como tantos outros neoarautos da moralidade, age no vácuo de líderes e de referência neste momento tão delicado na vida nacional.
As manifestações, nos mundos virtual e concreto, são necessárias na construção da democracia. Em ambos os ambientes, porém, permanece o desafio de impedir que o direito à liberdade seja usado contra esse pilar da democracia. São brechas nas quais minorias mascaradas e anônimas se movimentam para contaminar, muitas vezes, a legitimidade de reivindicações que mereceriam ser ouvidas.
Ao transbordar do Facebook para as ruas de Brasília, a estupidez dos haters extrapola o ambiente virtual para se transformar em fumaça e fogo. O Brasil está, sim, carente de um tipo de cidadão radical: o radical da moderação. Para que a ameaça de extinção da espécie não se concretize, é preciso canalizar esforços para o consenso e para um projeto de futuro que vá além do curtir, do comentar e do compartilhar.