Reduzir o debate sobre o futuro do Estado à venda de algumas estatais seria um retrocesso. O Rio Grande do Sul tem, novamente, a oportunidade de pensar suas próximas décadas de uma forma ampla e profunda. Está nas mãos da Assembleia a proposta de uma consulta popular. Se aprovada, terá como objeto mais visível o destino de três empresas: CEEE, Sulgás e CRM. Mas, de fato, é muito mais do que isso.
É uma distorção o Estado, notoriamente combalido, ser forçado a realizar uma operação custosa para definir algo que deveria estar na essência de um projeto que foi vitorioso nas urnas. Governos devem governar. Parece óbvio, mas a cegueira corporativista e o clientelismo político se impuseram até mesmo sobre o bom senso.
Por outro lado, o governo demorou demais para agir. Esperou as eleições municipais, com medo do desgaste pela defesa das privatizações, e depois viu sua base perder consistência na Assembleia. Mas, se o plebiscito é a alternativa que resta para se tentar começar a reformar o Estado, deve-se adotar a alternativa menos ruim.
Mais uma vez, o papel da Justiça Eleitoral será decisivo. Uma consulta popular com tamanho grau de impacto será precedida de uma campanha pública. É fundamental zelar pelo equilíbrio e, principalmente, fiscalizar com o máximo rigor a origem e o volume dos recursos utilizados na defesa do sim ou do não. Vivemos em tempos de polarização e de agressividade extrema no debate público. Cabe a todos exercer e cobrar transparência e serenidade.
Como contribuição ao debate, fica a ideia de que se inclua na consulta um número maior de empresas e também a necessidade de plebiscito para a criação de novas estatais, o que daria equilíbrio ao processo.
A decisão sobre o futuro do Estado não deveria se transformar em uma queda de braço entre governo e oposição. Por mais que os políticos tenham legitimidade e dever de se posicionar, o debate não é só deles. É principalmente da sociedade, que precisa estar atenta e ativa no amadurecimento de uma decisão com implicações profundas não apenas no governo, mas na realidade de cada um dos gaúchos. Mais e melhor saúde, segurança e educação. É sobre isso que, caso se concretize o plebiscito, estaremos decidindo em novembro.