O ataque cibernético que atingiu 150 países na sexta-feira só ratificou que uma das grandes questões do mundo moderno será a forma como trataremos a privacidade. Vivemos um tempo digital e sem fronteiras. Um vírus se espalha velozmente pelos computadores do planeta, infecta redes, criptografa dados e exige pagamento de resgate. Se o usuário não paga, perde acesso ao conteúdo de seu computador. A ameaça chega a pessoas, empresas, instituições, órgãos públicos e governos. Ninguém está imune. Vivemos um novo tipo de violência: o sequestro de dados.
No domingo, o diretor jurídico da Microsoft (o vírus entrou por uma falha do Windows), Brad Smith, pediu uma espécie de Convenção de Genebra Digital. Ele argumenta que agências de inteligência armazenam vulnerabilidades como quem monta um estoque de armas e, com isso, tornam a internet menos segura para todos. Ao descobrir estas falhas, deveriam divulgá-las para que fossem rapidamente consertadas. A sugestão faz sentido e me recorda uma frase que ouvi certa vez: a tecnologia veio resolver problemas que antes a gente não tinha. E ela, a tecnologia, também criará, cada vez mais, novos dilemas. A privacidade digital é uma decisão totalmente sua ou também, em certa medida, do governo? Você aceitaria compartilhar dados de sua velocidade, permitindo ser multado online pela polícia, em troca de pagar menos na compra do carro? A privacidade é um valor inalienável ou perdê-la se justifica em nome do bem comum ou vantagem financeira? A privacidade na internet deve ser igual fora dela? A privacidade deve ser um conceito rígido ou precisa ser flexibilizada neste nosso mundo hiperconectado?
Você pode dizer que jamais pagaria o resgate pedido na semana passada. Além do alto custo, sempre haveria o risco da não devolução dos dados, da repetição ininterrupta desse tipo de crime ou, ainda, a possibilidade de chantagens futuras com as informações rastreadas.
Mas, e quando não forem apenas seus arquivos profissionais, suas fotos e seus documentos pessoais? Há 20 anos, a leitura de um genoma humano custaria bilhões de dólares e levaria anos de trabalho. Hoje, o Oxford Nanopore Minion, do tamanho de uma barra de chocolate pequena, por apenas mil dólares, sequencia o seu DNA em poucas horas. O uso vai da triagem do câncer, mapeamento de doenças, efeitos de medicamentos e até a identificação de peixes contaminados em um sushi barato. É, de fato, uma linda (r)evolução deste mundo onde a tecnologia cresce de maneira exponencial.
E agora: pelo sequenciamento do seu DNA, você pagaria ou não o resgate?