Nos idos do mensalão, José Dirceu voava de jatinhos particulares e morava em um caro condomínio. Ninguém se perguntava como ele podia estar sempre viajando, ou como pagava IPTU nababesco apenas com rendimentos partidários. Estivesse a imprensa do centro do país mais atenta às relações político-empresariais e saberíamos, já naquela época, de muitos dos fatos revelados agora pela Lava-Jato.
Por isso, é salutar que a imprensa gaúcha esteja sempre tão preocupada em olhar, com lupa, a relação entre políticos e empresários. Porém, isso não pode ser confundido com pré-conceito, como se em qualquer troca entre o público e o privado fosse haver algo escuso, errado, promíscuo. Na linha do "se hay gobierno, soy contra", muitos jornalistas parecem pensar que, se há empresa envolvida com governo, há que se criticar, fustigar, ironizar, manter o pé atrás.
Houve um destes acontecimentos elucidativos no feriado de 21 de abril. O prefeito de Porto Alegre foi participar, em Foz do Iguaçu, de um encontro do Lide, Fórum de Líderes Empresariais criado pelo agora prefeito de São Paulo, João Doria. Na plateia, 80% do PIB do país. Marchezan Jr. não foi lá a passeio. Convidado, palestrou no evento e foi, inclusive, muito aplaudido. Com sua fala, atraiu empresários interessados em investir na capital gaúcha e alinhavou com ministros recursos para obras e serviços na cidade. Foi a primeira vez que um prefeito de Porto Alegre esteve entre os convidados de um evento que visa abrir oportunidades de investimentos diretamente com quem faz estes investimentos. Em um Estado tão fechado como o nosso, em uma cidade sempre tão refratária ao novo e ao que vem de fora, seria de se esperar que essa nova lógica de um poder público mais arejado fosse elogiada e incentivada. Mas não. Parte da imprensa, às vezes mais preocupada em parecer imparcial e crítica do que em ser exata, tratou o encontro como uma colônia de férias, cheia de frivolidades bancadas com dinheiro público. O evento tinha mesmo torneio de golfe e outras atrações para lazer e descontração dos participantes – como acontece, aliás, em todos os grandes eventos do Lide. Mas a razão para tais momentos é mais uma daquelas visões que nos distanciam do centro do mundo: negócio não se faz assistindo palestra, negócio se faz depois da palestra. É por isso que eventos de conteúdo que visam gerar negócios precisam de espaços para incentivar o relacionamento, a conversa entre plateia e oradores, a troca de cartões de visita e apertos de mão. Nós, gaúchos, precisamos aprender que network é importante não só pelo work, mas também pela net. Porque se ficamos apenas acumulando informação, vamos continuar nos achando os mais sabidos, enquanto paramos no tempo e na história. Quem sabe, se fôssemos mais abertos e simpáticos ao relacionamento entre governo, empresas e sociedade, como nas principais cidades do mundo, deixaríamos de ser uma capital que sequer consegue manter um museu aberto sete dias por semana.