Semana passada, em Nova York, presenciei o que poderia ter sido uma semana de gala do Brasil. Era consenso dos investidores e lideranças que, em meio à maior e mais prolongada crise econômica, social e ética vivenciada na história brasileira recente, o país estava voltando aos trilhos, com o controle da inflação e o encaminhamento de reformas importantes para equilibrar as contas e melhorar a competitividade nacional.
Muitas empresas também mostraram que fizeram o dever de casa na crise e começavam a apresentar novos projetos para um esperado novo ciclo de crescimento. O clima era de otimismo. Os principais empresários do Brasil participaram de vários encontros, entre eles, a premiação do Homem do Ano ao prefeito de São Paulo, João Doria que, com o governador Geraldo Alckmin, está divulgando internacionalmente o programa de desestatização do Estado de São Paulo. É uma ação que tem cheiro de início de lançamento de uma campanha presidencial na qual Doria tem se colocado como o candidato com maiores chances de vitória, satirizando o possível candidato da oposição (Lula e seu partido) e se mostrando como o gestor de que o Brasil precisa. Ao lado do apático Alckmin, Doria exalta a necessidade de resgatar o orgulho de ser brasileiro e que a maioria silenciosa não pode mais deixar que a minoria ruidosa administre o Brasil.
Até então, eu achava que a única escalada da crise política nestes dias estava em Washington, com a acusação de intervenção de Trump junto a uma investigação federal. Porém, a bomba que caiu com a delação da JBS envolvendo o presidente Temer terminou com a ilusão de que o país estaria saindo da crise. O mercado brasileiro de capitais desabou e restou a realidade de que perdemos a governabilidade de novo! A aversão ao risco paralisou o país, que precisa de uma saída urgente para aprovar as reformas, com ou sem mandato tampão, e aguardar a próxima eleição que dê legitimidade para o presidente e políticos com ficha limpa.
É difícil apenas continuar reformando a casa, diante do risco de desabamento. O Brasil precisa ser passado a limpo a partir do zero. Talvez, assim, consigamos recuperar o orgulho de nos expor vendendo ao mundo uma imagem sólida e sustentável e não apenas sonhos.