* Promotora de Justiça Especializada de Estrela/RS
Sou promotora de Justiça há 17 anos e tenho percebido um aumento substancial da criminalidade juvenil, com muitos adolescentes na Fase. Fatos graves têm norteado as audiências de apresentação, que redundam em oferecimento de representação. Em todos eles, há algo em comum: são jovens que estão fora da escola, oriundos de famílias desajustadas e usuários de drogas.
Recentemente, um adolescente me disse que era usuário de pedra. Era magro, alto e havia praticado roubo juntamente com outro que já se encontra na Fase. Perguntei-lhe o porquê de usar referida droga e ele me respondeu: "Porque é normal usar crack. Pelo menos para mim". Fiquei estupefata com a resposta, porque não, não é normal alguém usar crack! Fiquei tentando imaginar a realidade em que vive, pensando se não é o que lhe resta.
Adolescentes também têm se responsabilizado por pontos de tráfico. Manejando armas com facilidade, planejando crimes graves, adotados por facções, tatuam no rosto os seus símbolos sem o menor pudor, afinal de contas, com adolescente não dá nada. E ir para a Fase talvez seja um prêmio, talvez faça com que, na volta, eles se tornem idolatrados pelos seus pares e ganhem ainda mais poder. Para os pais, restam as lágrimas.
Em outra audiência recente, ao adolescente internado provisoriamente foi perguntado como estava na Fase. Ele respondeu que estava ruim. Claro, só pode estar ruim! Lá tem regras, tem horários, tem atividades, tem que estudar, tem limites, o que aqui fora ele nunca teve.
Diante de tamanha audácia, fico me perguntando onde vamos parar? Estamos à mercê de adolescentes criminosos, que sabem muito bem o que estão fazendo e sabem o quanto estão errados. Mas têm eles outra opção? Por certo, nada justifica a escolha do mundo do crime como modo de vida, mas é essa a realidade que conhecem e são esses os ídolos que possuem. E quanto a nós, sociedade de bem, o que esperar do futuro desses jovens? Apenas torcer para que não sejamos sua próxima vítima.