O desenho de um garoto de 10 anos mostrando armas e uma cabeça estourando – encontrado em recente operação policial em Porto Alegre – dá forma a um aspecto pouco debatido da violência. Os danos da criminalidade atingem todos os gaúchos indiscriminadamente, mas há uma parcela oculta da população que merece atenção especial e imediata, enquanto é tempo: a composta por crianças expostas ao crime num dia a dia quase sempre associado à miséria.
Se uma das alternativas mais eficazes contra a violência é a prevenção, a sociedade e a rede oficial de amparo não podem permitir que o mundo infantil de um contingente tão expressivo de gaúchos continue a ser corrompido sistematicamente. Cidadãos criados num ambiente hostil não estão condenados, necessariamente, a se tornarem violentos – muito menos integrantes de grupos de extermínio, responsáveis por decapitações e esquartejamentos, como o visado pela recente ação na Capital. Ainda assim, precisam de cuidados, que não vêm tendo, para aprenderem a discernir arte e brincadeira da realidade.
Como adverte uma das entrevistadas na reportagem sobre o caso, quem reproduz no papel uma metralhadora, revólver, pistola, espingarda, machado, facão, um projétil e uma pessoa baleada pode estar só projetando vivências, mas também gritando por socorro. E o período da infância é para ser dedicado ao estudo e a brincadeiras saudáveis, não a situações tão aflitivas.
A perspectiva de um cotidiano menos violento depende em muito da capacidade de os gaúchos garantirem um futuro para essas crianças, impedindo que migrem para o crime.