Desde a campanha eleitoral no ano passado, Donald Trump abriu uma guerra aberta contra a imprensa. Trump não titubeia em dizer que os meios de comunicação reproduzem fake news. Em 16 de fevereiro, o presidente foi além: em uma conferência na Casa Branca, ao responder questionamentos de Jim Acosta, correspondente da CNN na Casa Branca, o republicano disse que a emissora, uma das principais redes de televisão jornalísticas do mundo, não apresenta apenas fake news, e sim, "very fake news".
Trump não está sozinho. Seu desdém é compartilhado por muitas pessoas que negam as notícias da grande imprensa, por apresentarem supostas mentiras, preferindo sites da internet que noticiariam os fatos verdadeiramente críveis. Sob nomes e ideologias diversas, essas páginas aparecem e desaparecem propagando manchetes sensacionalistas e boatos travestidos de verdade, compartilhadas milhares de vezes em perfis no Facebook e grupos de WhatsApp. Cada clique é convertido em cifras para o caixa dos sites, que ganham com as visualizações, já atingindo a casa dos milhões de pageviews. É uma verdadeira máquina de fazer dinheiro.
Hollywood já retratou as mazelas da imprensa sensacionalista em A montanha dos sete abutres, em que Kirk Douglas, que interpreta um repórter decadente e inescrupuloso, usa notícias falsas para recuperar o seu prestígio. Esses artifícios eram usados antigamente para vender jornal, muito jornal. Com a instituição do jornalismo como indústria, a imprensa foi mudando seu comportamento e separando o joio do trigo. No mundo das redes sociais, o jogo ainda é o mesmo de antigamente, mas o meio agora é virtual, onde se espalha como erva daninha causando estragos por onde passa.
A imprensa sempre foi a Geni dos radicais. Isso pode ser explicado, em parte, pelo telhado de vidro que um veículo de massa possui. O descrédito do público e do homem mais poderoso do mundo são um desserviço para o jornalismo de qualidade. Em um mundo em que verdade é mentira e mentira é verdade, 1984, a distopia de George Orwell, nunca foi tão real como agora.