Já parou para pensar sobre o porquê de as prefeituras brasileiras não liberarem mais autorizações para taxistas atuarem em nossas grandes cidades? Antes do celular e da internet, fazia muito sentido limitar o número de motoristas. Naquele distante tempo, utilizávamos os pontos de táxi, presencialmente ou por telefone fixo. Se a prefeitura aumentasse o número de táxis, teria que aumentar também o número de pontos, criando, assim, um problema de ocupação do espaço urbano. Em municípios de alta densidade, como Porto Alegre, essa limitação era ainda mais importante.
Pois o tempo passou, hoje o taxista não precisa mais ficar no ponto para conseguir passageiros, e a regulação da atividade permanece igual. Por quê? Criou-se, no Brasil inteiro, um mercado negro de permissões, concentradas nas mãos de alguns barões dos táxis, que fazem pressão para que nada mude. Além disso, as autoridades locais não querem perder esse poder de decidir quem tem direito a prestar o serviço, o que hoje é a ocupação de centenas de burocratas que, no mínimo, fazem vista grossa para o mercado negro.
Foi essa realidade distorcida e corrupta que a Uber e seus concorrentes encontraram quando começaram a operar no país. Desde o início, o Cade – órgão que zela pela concorrência no Brasil – avisou que nosso verdadeiro problema estava na pouca concessão de permissões, e não no surgimento de novos players nesse mercado. Em 2015, provou empiricamente que o surgimento da Uber não afetou a atividade de táxis (talvez tenha afetado apenas o mercado negro de permissões). Pelo contrário, criou um novo mercado para atender uma demanda reprimida.
Não estou aqui defendendo especificamente a Uber, até porque há dois players brasileiros que disputam hoje esse mercado em vários países: 99 e Easy. Há, ainda, a possibilidade de novas plataformas surgirem, inclusive algumas de caráter local e cooperativo. Uma iniciativa internacional chamada LibreTaxi criou uma plataforma de código aberto que pode ser usada livremente por novos entrantes nesse mercado.
O fato é que se a regulação de mercados como esse, no Brasil, ficar muito ultrapassada, a tendência é ficarmos de fora das pequenas mudanças tecnológicas e sermos engolidos pelas grandes revoluções, de longo prazo, nos tornando uma nação cada vez mais pobre e dependente da tecnologia que vem de fora. Em alguns anos, esses aplicativos estarão plenamente integrados com veículos autônomos, o que deve criar um novo modelo de transporte urbano barato e seguro. Iremos, então, olhar para fora e mudar nossa regulação às pressas. Será tarde demais, porque não teremos participado da concepção dessa nova indústria. O conhecimento e as margens de lucro ficarão novamente no Exterior.