Churchill afirmou que a democracia era a pior forma de governo, salvo todas as outras que já tinham sido experimentadas. Penso que nela há o grande inconveniente de permitir que hipócritas se aproveitem de suas vantagens enquanto tramam contra ela. Há muito mentiroso que se diz democrata até conseguir por as unhas para fora. Os defeitos mais conhecidos da democracia são permitir o populismo, a incompetência e a corrupção, aliás, os outros regimes também permitem.
Dentro dos princípios democráticos, o porteiro de uma Universidade poderia se eleger reitor se todos os funcionários pudessem votar, pois os professores são em menor número. A primeira medida populista que tomaria para se manter e perpetuar no cargo seria aumentar o salário dos seus colegas de função, do pessoal da limpeza, manutenção, segurança, almoxarifado, enfim de seus numerosos eleitores diretos. Diminuiria suas jornadas de trabalho, melhoria suas aposentadorias, bolsa transporte, alimentação, licença paternidade e sei lá o que mais. As necessidades do corpo docente e discente e a qualidade do ensino, principais objetivos de tudo, que o diabo as carregasse para onde bem quisesse, o essencial seria manter seu eleitorado cativo. A segunda medida seria escolher um professor entreguista-capacho e nomeá-lo secretário geral para simular cuidado com os problemas do magistério. A Universidade viraria um cabide de empregos e perderia sua utilidade. Quando o populismo toma conta, a democracia entra em septicemia e baixa na UTI.
Pensemos na utilidade do Ministério da Agricultura. Bem gerido, pode cuidar que as plantações recebam créditos compatíveis no momento certo, pode controlar por estoques reguladores os preços excessivos dos produtos, prevenir o fluxo do transporte que viabilize o escoamento pelos portos, financiar com modalidades de crédito especiais um programa de silos e armazéns, desenvolver junto ao Itamarati as políticas de exportações, apoiar de maneira responsável e inteligente as estações de pesquisa e promover o desenvolvimento de novas culturas ainda não experimentadas no país. Agora imaginem um ascensorista do prédio do Ministério colocado no cargo de ministro. Que se pode esperar? Que resultado se pode almejar quando a democracia elege um incompetente que preenche um ou mais dos seus c argos ministeriais baseado em politicagem? Quando a democracia elege um incompetente, o povo tem obrigação de trocá-lo por um melhor na próxima eleição, do contrário, o povo é que é incompetente.
Imaginem agora uma estatal primorosa, rica, em pleno desenvolvimento, com suas ações de vento em popa, valorizadas e disputadíssimas., assim com era a Petrobras. Assume um novo presidente, eleito democraticamente, e coloca nas diretorias mais importantes desta estatal raposas vigaristas. Estas passam a servir de ligação com empresários canalhas que montam contratos viciados, superfaturados, negócios desnecessários e tremendamente prejudiciais para a saúde desta estatal. O objetivo são imensas propinas distribuídas para os partidos de apoio do governo e para estes diretores, mas, lógico, nunca para o presidente eleito. Quando a democracia permite a eleição de um corrupto, a única maneira deste regime de governo se recuperar é submetê-lo à justiça e começar tudo de novo. A democracia é tão boa como o coração de um homem, mas tanto uma como outro, podem ser corrompidos.
A grande vantagem da democracia está em poder trocar periodicamente pelo voto os populistas, incompetentes e corruptos em quem erroneamente confiou. Nisto reside o progresso de uma nação.
A limpeza que a Lava-Jato está fazendo tem sido como uma brilhante carga de cavalaria, mas precisa ser consolidada pela infantaria de nossos votos nas próximas eleições.