No elegante Hôtel Biron, na Rue de Varenne, em Paris, há um lindo museu dedicado ao grande Auguste Rodin. Cerca vez, enquanto admirava a escultura de "O pensador", nos jardins do museu, ouvi uma gritaria.
Era um grupo de adolescentes. Observei-os, de longe. À medida que se aproximavam daquela escultura maravilhosa, os ruídos iam sendo substituídos por um profundo silêncio de encantamento.
Segui-os, depois, pelos salões do museu. Fiquei curioso em saber como reagiriam aos amantes entrelaçados em "O beijo". A reação foi idêntica. Deliciaram-se com a beleza da obra, novamente, em um silêncio absoluto.
Igual emoção eu senti na noite do último 26 de março, nas escadarias lotadas da Igreja das Dores, quando celebramos a abertura das atividades da 11ª Bienal do Mercosul.
Houve vaias aos políticos antes do concerto, sim. Como organizador do evento, peço desculpas. Contudo, prefiro ainda esta jovem e malcriada democracia ao silêncio acuado da ditadura.
Para mim, o momento mais sublime da noite foi quando o maestro Borges-Cunha iniciou seu impecável programa de música contemporânea, inspirado em "O Triângulo do Atlântico", tema da próxima Bienal. Como num passe de mágica, não se ouviu um ruído sequer.
Fizeram silencio até aqueles que se utilizaram do encontro para externar seu descontentamento com a realidade do país, rendendo-se à força da arte.
É esta possibilidade de emocionar, pela beleza e força estética, que torna a arte essencial ao ser humano. E é esta a razão de ser das bienais. Longa vida à cultura!
Obrigado, Padre Almeida, por dobrar, por todos nós, os sinos da formosa e centenária Igreja das Dores, naquela romântica noite de lua, como um Ernest Hemingway!