A palavra escambo significa a troca de mercadoria por trabalho. Ela foi muito utilizada no contexto da exploração do pau-brasil (início do século 16). Os portugueses davam bugigangas para os indígenas, tais como apitos, espelhos e chocalhos, e, em troca de trabalho, os nativos deveriam cortar as árvores de pau-brasil e carregar os troncos até as caravelas portuguesas.
Séculos se passaram, mas a prática parece renovada. Ao assistir, nas últimas semanas, à delação dos executivos da Odebrecht, por associação, a memória nos remete à cultura do escambo que ganha ainda mais força na suspeita relação do meio político com os financiadores privados de campanhas eleitorais, com a compra de favores e vantagens através de propina.
Momentos de crise e descrédito das instituições trazem riscos de fazer surgirem, como salvadores, os falsos líderes, uma vez que o político tradicional terá dificuldade de ser reeleito nas próximas eleições. É também a oportunidade de quebra do status quo de um modelo perverso regado a recursos, públicos ou privados, que bem poderiam servir para irrigar com muita vitalidade o deficiente sistema de infraestrutura brasileiro, a educação decadente e/ou o destroçado sistema de segurança dos cidadãos e do patrimônio.
A dificuldade de financiamento de campanha é outro fator em jogo, que assusta aqueles que estão acostumados a campanhas milionárias e que são os mesmos que terão que votar a reforma política. Sem dinheiro ou com o volume do tamanho do seu bolso, os novos políticos terão que gastar a sola de seus sapatos e se promoverem via mídias sociais com propostas claras, inteligentes e viáveis. Sabe-se que, mesmo assim, persiste o risco de alijar do processo ou diminuir a presença de políticos honestos que realmente buscam o bem comum, além da possível distorção da realidade via mídias sociais e grupos formais e informais, com interesses próprios, apoiando os candidatos.
Queremos novos políticos e líderes, mas precisamos aceitar mudanças nas regras e cobrar resultados ao invés de nos acomodarmos. De nada adiantará continuarmos fazendo da mesma forma e esperarmos resultados diferentes. Se for assim, continuaremos trocando pau-brasil (impostos) por bugigangas.