Livros sobre música de concerto são raros no Brasil, ainda mais com crises editoriais e livrarias em perigo. Embora Beethoven seja um dos compositores mais biografados entre todos os compositores, é bom ver uma nova biografia nas prateleiras. Capa dura, mais de mil páginas, cheiro bom de tinta fresca e livro novo, Beethoven – angústia e triunfo, com seu nome inclinado para o melodrama, está disponível para quem quiser ler.
Na realidade, essa biografia de Beethoven é vários livros num volume só. De repente, o texto de Jan Swafford coloca diálogos imaginários na boca dos personagens e aí o livro se aproxima do romance e da ficção, um perigo. Virando a página, o outro extremo – exemplos em notação musical plantam o texto em plena teoria da música e talvez muitos leitores fiquem por ali mesmo.
Na sua indefinição de estilo, Beethoven – angústia e triunfo esclarece uma dúvida que sempre aparece nas aulas sobre Beethoven: “mas o que o público achou quando isso daí foi tocado pela primeira vez?” É pergunta recorrente e que Swafford responde com vantagens.
Cartas, diários, críticas de jornais e revistas – tudo é recuperado para emoldurar Beethoven nas suas circunstâncias, a música nas suas incompreensibilidades momentâneas, os protestos dos contemporâneos: “isso não é música” ou “Beethoven é doido, coitado”.
As análises musicais são a parte menos interessante do livro, que importa mais pela sua crônica de tempos de mudança. Não há curiosidade que não fique satisfeita e as mil páginas passam rápido. O livro pesa nas mãos e a tradução poderia ser melhor, mas ninguém sairá da leitura sem resposta para outra dúvida clássica: “por que alguns compositores são mais imortais do que outros?” Para além do mito do compositor surdo, Jan Swafford constrói bons argumentos para descrever uma revolução sonora que, há duzentos anos, colocou a música de concerto de ponta cabeça.