Estudos históricos e sociais têm ensinado acerca de consequências relacionadas ao sentimento do medo, um dos fatores predominantes de preservação das espécies. Tanto em ameaças físicas quanto psicológicas, a sensação de medo desperta alertas e reações.
Diante de um fato novo, estranho ou desconhecido, e face à incapacidade de dimensionar suas consequências imediatas e futuras, flui o sentimento de ansiedade e medo.
Esta introdução acerca do humano sentimento de medo e do estranhamento me ocorreu com o intuito de relacionar aos fatos políticos mais recentes no cenário internacional.
Como exemplo, refiro-me às reações relativamente à onda migratória (da África e do Oriente Médio) que atinge e envolve praticamente toda Europa e à recente eleição e posse do empresário Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. E agora a França.
Consequentemente, no meio jornalístico, acadêmico e político-ideológico, principalmente, predominam a retórica e o entendimento de que estas reações popular-eleitorais caracterizariam o que denominamos em política, regra geral, como que de "comportamento e reação de direita".
Nada mais falso. Não é ideológica a reação popular e conservadora europeia. É simplesmente o medo. Não bastasse o desemprego atual, ainda impera o temor da violência aleatória (atentados terroristas).
Evidentemente que, do ponto de vista político-eleitoral, haverão de colher dividendos nas urnas aqueles que alertavam desde sempre quanto às consequências negativas (para o meio de vida local) destas hipóteses. Ainda que preconceituosa e demagogicamente, às vezes.
Mas isto não está relacionado à política ou à ideologia. É simplesmente o humano e animal sentimento do medo e da desestabilização social. É a atávica hierarquia do medo.
Resumindo, a modernidade começa pelo medo. Se o motor da história em Karl Marx é a luta de classes, em Thomas Hobbes é o medo. Ou, então, em Erich Fromm: o medo à liberdade.
O medo faz com que dominemos e sejamos dominados. O mesmo medo que salva é o medo que pode matar!