O levantamento do sigilo das delações dos executivos da Odebrecht e a ampla divulgação pela imprensa das acusações contra políticos e autoridades investigados não podem ser interpretados como condenação antecipada de pessoas que devem ter amplo direito de se defender. Apenas acrescentam o antídoto da transparência ao doloroso processo de expiação da corrupção pelo qual o Brasil está passando. Pela primeira vez na história do país, a sociedade está tendo a oportunidade de acompanhar quase em tempo real as denúncias, as investigações e as explicações dos protagonistas do mais organizado e duradouro esquema delituoso em operação na administração pública, na política e nas relações entre governos e iniciativa privada.
É importante que o princípio da publicidade prevaleça sobre o sigilo, pois assim os brasileiros poderão ter certeza de que não haverá perseguição política nem proteção a ninguém. Mais do que isso: mesmo que a Justiça não aja com a celeridade desejada, os cidadãos terão a oportunidade de fazer seus próprios julgamentos sobre seus representantes, principalmente sobre aqueles que em breve passarão pelo tribunal das urnas.
Assim como a imprensa está desafiada a informar com responsabilidade, relativizando as diferentes acusações para evitar generalizações injustas e a demonização indiscriminada da atividade política, também cabe ao público estabelecer critérios de avaliação. Não basta, por exemplo, considerar que cinco ex-presidentes da República estão envolvidos, ou que senadores, deputados e governadores de vários partidos foram citados pelos delatores. É essencial saber exatamente o que cada um fez para merecer a citação. Mais ainda: é imprescindível conferir o andamento das investigações para que cada caso seja avaliado de acordo com sua verdadeira dimensão.
Ainda que muitas pessoas repudiem indistintamente todos os que cometeram algum tipo de deslize ou delito, o justo é que cada um seja julgado e punido pela parte que lhe compete. Percebe-se, já num primeiro momento, que alguns políticos investigados demonstram alívio ao constatar que estão sendo acusados "apenas" pelo delito de caixa 2, como se o uso de recursos não declarados em campanhas políticas nem fosse uma ilegalidade. É verdade que os próprios investigadores distinguem caixa 2 "puro" de caixa 2 com propina. Mas caixa 2 é sempre falsidade ideológica. Além disso, os próprios delatores informam em seus depoimentos que faziam "investimentos" em políticos que cedo ou tarde poderiam beneficiá-los. Portanto, não é apenas um crime menor. É, sim, um contrato de disponibilidade para a corrupção.
E a corrupção, que está sendo dissecada pela Operação Lava-Jato, tem que continuar sendo combatida permanentemente, para que este país possa sonhar com um futuro mais digno para todos.