Diante da importância do cargo que ocupa, a proposta de "desmistificação" do caixa 2 e a efusiva defesa do financiamento de campanhas por empresas privadas feita pelo ministro do STF Gilmar Mendes são constrangedoras e assustadoras. Não é possível crer que o referido ministro não percebeu que o sistema de financiamento de campanha expropriou a democracia brasileira. Diante do que tem sido revelado, é notório que muitos se elegeram em razão do abuso do poder econômico e que muitos mandatos foram absolutamente comprados para atender a exclusivos interesses privados.
Mas a expropriação da democracia brasileira não foi feita unilateralmente pela iniciativa privada ou pela elite financeira. Há a importante participação de uma intocável oligarquia política que nunca deixou de dar as cartas na política nacional e que, agora, começa a espernear diante da absoluta falência do atual sistema político como desdobramento da Operação Lava-Jato.
Por consequência disso, Brasília tornou-se uma fábrica de tramas jamais vista. A trama da vez é aprovar a "lista fechada" para eleições proporcionais, onde os parlamentares passariam a ser escolhidos pelos partidos e não pelos eleitores. Nitidamente, trata-se de uma tentativa dos caciques políticos de obter sobrevida política no esconderijo das listas fechadas. Em meio a tudo isso, esses mesmos políticos, que agora atuam refratariamente à persecução criminal instalada contra a corrupção sistêmica no Brasil, estão deliberando sobre a reforma da Previdência e a reforma trabalhista, assuntos caríssimos a toda a população.
Pior do que isso, o atual presidente da República aproveita a sua impopularidade para aprovar essas reformas. Mas não deveria ser o contrário, ou seja, os chefes de Estado não deveriam ter o respaldo popular para importantes decisões? Diante de um quadro político apodrecido, onde está a legitimidade para essas decisões? Para o constrangimento de muitos, a política no Brasil não mudou depois do golpe e não se sabe se irá mudar depois da Operação Lava-Jato. O que se pode afirmar no momento é que a democracia está em mãos erradas.