Na semana passada, convivi durante alguns dias com investidores e organizações de suporte ao empreendedorismo do mundo todo, no Global Entrepreneurship Congress, realizado na África do Sul. Ficou evidente o potencial de cooperação entre nações que estejam em estágios semelhantes de desenvolvimento, bem como entre nações que abriguem ecossistemas de inovação que passem por momentos parecidos.
Como mencionei em minha última coluna, a topografia do investimento em inovação no mundo está mudando rápido, com a descentralização da origem e do destino do dinheiro. Uma das maneiras de otimizar esse fluxo de capital é o co-investimento entre essas nações.
Imagine que um fundo de investimento localizado no Brasil possa fazer parte de um consórcio internacional, com expertises em diferentes mercados e localidades, que investe globalmente sem perder o conhecimento local. Pois essa foi a conclusão do painel do qual fiz parte, junto com meu sócio Felipe Amaral, que representou a rede global Nexus.
Veículos de investimento mais enxutos e distribuídos ao longo do globo já têm surgido. É o caso da SOSV, que já é a maior investidora global no estágio pré-semente e a segunda maior no estágio semente, perdendo para a 500 Startups. Ambas são concorrentes diretas da aceleradora TechStars, que estava representada na discussão por seu gestor para o continente africano. Essas organizações mantêm um modelo extremamente enxuto e ágil de análise das startups que podem vir a entrar em seus portfólios. Compartilham os ganhos com equipes locais que conseguem se inserir nos ecossistemas e gerar grandes volumes de oportunidades.
É o baixo custo operacional e o alto volume de investimentos realizados (ambos relacionados à grande capilaridade) que as distinguem hoje no cenário internacional.
Outra conclusão do painel foi que, com essas estruturas cada vez mais enxutas e eficientes, e com a desilusão geral acerca dos unicórnios (startups que atingem rapidamente o primeiro bilhão de dólares de valoração), a tendência é que haja uma queda no grau de escalabilidade exigido por esses investidores globais. Podem aí surgir novos modelos de veículo de investimento que rompam com a lógica atual do setor, que levou recentemente à grande decepção dos investidores em torno da Uber e de outras empresas investidas.
Com isso, abre-se uma possibilidade de ressignificação do papel do capital de risco no mundo, passando a apoiar empreendimentos mais reais e que realizem missões claras e duradouras.